O fotojornalista moçambicano Albino Mahumana celebra uma importante vitória ao conquistar o prémio da edição de 2024 do projecto Transversalidades – Fotografias sem Fronteiras, que era especial para concorrentes dos Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP).
O evento, reconhecido como um dos mais importantes concursos de fotografia em Portugal, celebrou a capacidade da arte fotográfica de documentar, inspirar e conectar territórios e culturas dispersas.
Reconhecimento de Moçambique no cenário fotográfico africano
Albino Mahumana recebeu o prémio especial dedicado aos PALOPs, destacando-se pela sua capacidade de capturar (com a lente da câmara) a essência do território e da vida humana. Suas fotografias demonstraram uma profunda sensibilidade artística e narrativa, traduzindo histórias únicas em imagens impactantes.
Numa entrevista exclusiva a Entre Aspas, Mahumana expressou a sua felicidade com a premiação, explicando que o reconhecimento do seu trabalho vai além do sucesso individual. “Sinto-me feliz com esta premiação, porque Moçambique fica reconhecido por ter fotógrafos que ombreiam e até superam os restantes fotógrafos de países africanos falantes da língua portuguesa”, afirmou o fotojornalista, acrescentando que “essa conquista coloca Moçambique no centro das atenções e reforça a importância da fotografia como uma ferramenta de expressão cultural e social.”
Concorrendo na categoria de Agricultura, Mahumana destacou que tem dedicado as suas reportagens fotográficas a essa área crucial. “As fotos têm relação com a segurança alimentar em Moçambique”, explicou. A escolha do tema reflecte o compromisso do fotojornalista em abordar questões centrais para o desenvolvimento do país e sensibilizar sobre os desafios enfrentados pelo sector agrícola moçambicano.
Fotografia de intervenção social: o compromisso com a realidade moçambicana
Para Mahumana, seu trabalho é uma forma de intervenção social, essencial para dar visibilidade às condições de pobreza enfrentadas por muitos moçambicanos. “O papel do meu trabalho é fundamentalmente fazer fotografia de intervenção social da situação de pobreza que vive a maior parte dos nossos irmãos aqui em Moçambique, para que quem de direito faça a sua intervenção para o melhoramento da vida das pessoas”, disse. Ele compartilha suas fotografias tanto em jornais locais quanto em plataformas internacionais, através de exposições e concursos, dando ao mundo uma visão mais ampla da realidade moçambicana.
Partilha e enriquecimento cultural nas comunidades
Além do seu trabalho como fotojornalista, Mahumana também promove oficinas de fotografia e caminhadas fotográficas nas comunidades. “Tenho partilhado os meus trabalhos, através de oficinas de fotografia e caminhadas fotográficas nas comunidades, que tenho promovido com alguns colegas, como forma de partilha e troca de experiências entre fotógrafos e a comunidade”, revelou. Essa iniciativa visa não só a disseminação do conhecimento técnico, mas também o fortalecimento da identidade cultural e da expressão artística em Moçambique.Inspirações e referências: o maior fotojornalista moçambicano Ricardo Rangel e Sebastião Salgado
O fotojornalista compartilhou com a Entre Aspas as suas principais fontes de inspiração, mencionando figuras renomadas da fotografia de intervenção social. “A minha fonte de inspiração é, sem dúvida, o Ricardo Rangel em Moçambique, e continuo a abraçar a linhagem dele na fotografia de intervenção social. Fora de portas, inspiro-me no Sebastião Salgado, fotógrafo brasileiro”, revelou. A admiração por esses mestres reflecte-se em seu estilo e abordagem, marcada pela busca de um impacto visual e social profundo.
Inspirando futuros fotógrafos moçambicanos
A vitória de Albino Mahumana representa uma oportunidade para inspirar outros moçambicanos a acreditar no potencial do país. “Acredito que vai inspirar os moçambicanos, porque com esta premiação acreditam que, afinal, somos capazes, nós moçambicanos, e vão trabalhar arduamente para alcançar esta premiação”, afirmou. Mahumana acredita que, além de promover o reconhecimento de Moçambique, a distinção poderá despertar o interesse internacional pelo trabalho dos fotojornalistas locais, abrindo novas janelas para a fotografia moçambicana no cenário mundial.
A conquista de Albino Mahumana não só celebra o talento individual do fotojornalista, mas também reafirma o poder da fotografia de intervenção social como ferramenta de transformação e conscienialização.
De referir que os resultados desta edição serão celebrados numa exposição e no lançamento do catálogo oficial, marcados para o dia 8 de Dezembro, às 15h00, no Teatro Municipal da Guarda. O evento integra o programa VII Encontro Imagem & Território, que ocorrerá de 6 a 8 de Dezembro, na cidade da Guarda.
O projecto Transversalidades reafirma-se como um espaço de inovação e inclusão, onde a fotografia transforma-se em uma poderosa ferramenta para revelar as belezas e os desafios de territórios muitas vezes esquecidos. A premiação de Albino Mahumana exemplifica a importância de dar visibilidade a talentos vindos de diferentes partes do mundo lusófono.
Milca Nhabanga
Sou Milca Nhabanga, 26 anos, residente em Intaka, estou a concluir o 4º. ano de Licenciatura em Jornalismo pela Universidade Eduardo Mondlane (UEM). Apaixonada pela comunicação, actuo na área de redacção e audiovisual, com foco em narrativas dinâmicas e envolventes que capturam o impacto da informação