O poeta moçambicano Álvaro Taruma figura na lista dos 10 finalistas do Pré(ê)mio Oceanos, numa lista que constam também autores de Cabo Verde e Portugal. Os vencedores – um de prosa e outro de poesia – serão anunciados no dia 5 de Dezembro, no auditório do Itaú Cultural, em São Paulo, no Brasil.
O anúncio dos finalistas foi feito esta terça-feira, e para além do moçambicano, publicado pela Alcance Editores, a categoria de poesia inclui os livros “Limalha”, de Rodrigo Lobo Damasceno, da editora Corsário Satã e “Uma volta pela lagoa, de Juliana Krapp, da editora Círculo de Poemas (Brasil); “Perder o pio a emendar a morte”, de José Luís Tavares, da editora de The Poets and Dragons Society (Cabo Verde); “Uma colheita de silêncios”, de Nuno Júdice, da editora Dom Quixote (Portugal).
Já a categoria de prosa tem como finalistas “Caminhando com os mortos”, de Micheliny Verunschk e “Meu irmão, eu mesmo”, de João Silvério Trevisan, da editora Companhia das Letras e Outono de carne estranha, de Airton Sousa, da Editora Record (Brasil); “Certas raízes”, de Hélia Correia, da editora Relógio D’Água (Portugal) e “O infortúnio de um governador nos trópicos”, de Germano Almeida, da editora Leya (Cabo Verde).
A organização aproveitou o momento de anúncio para agradecer aos “semi-finalistas e a todas e todos que participaram até agora da premiação, que desde 2003 vem celebrando a literatura em língua portuguesa”.
Álvaro Taruma diz que reconhecimento valoriza a literatura moçambicana
“Ser finalista do Pré(ê)mio Oceanos é, para mim, um reconhecimento muito gratificante, que valida o meu percurso como autor e o próprio valor da literatura moçambicana”, refere Álvaro Taruma, em entrevista exclusiva a Entre Aspas, acrescentando que “esta distinção coloca o meu trabalho num patamar mais amplo, dando-lhe a oportunidade de alcançar novos leitores e de abrir portas para outras publicações fora de Moçambique”.
Em termos de expectativas, Taruma espera que a nomeação inspire mais interesse pela literatura moçambicana e encoraje novos escritores a seguirem as suas próprias vozes. “Este é um momento de partilha e de visibilidade para todos nós que fazemos da palavra o nosso ofício. Além do facto principal que é a probabilidade de cada um dos que chegaram à final poderem ganhar o prémio”, finaliza.
“Criação do fogo”: livro que denuncia a contradição entre beleza e crueldade
“Criação do fogo” é o quinto e mais recente livro de Álvaro Taruma, lançado no dia 4 de Abril, Business Lounge do Nedbank, em Maputo, e contou com a apresentação dos académicos Filimone Manuel Meigos e Régio Conrado.
De acordo com o escritor Nelson Saúte, “estes poemas esplendentes também denunciam uma outra contradição: a sua beleza cruel ou a crueldade da sua beleza. “São tremendamente belos, cortantemente belos, lancinantemente belos”, descreve Saúte, ao mesmo tempo que acredita tratar-se de um poeta profundamente crítico. “A sua censura é implacável, extremamente dura e muitas vezes cortante”
Já Gillelio Cossa, quem testemunhou a cerimónia de lançamento do livro, diz que a quinta e nova proposta literária do poeta retrata, para além dos vários temas, a questão social de Moçambique. “Um livro impregnado de miséria, corrupção e desassossego”, comenta numa postagem que acompanha uma reportagem fotográfica sobre o evento.
Mais do que livro… uma performance
“Criação do fogo” é um livro que inspirou a performance “Não deixa arder até tarde o fogo”, apresentada no dia 28 de Agosto, na Anima, em Maputo
Com actuações do actor Mateus Nhamuche e dos bailarinos Afifah Zualo e Filmão Francisco, acompanhador por Fu da Siderurgia, a performance “Não deixa arder até tarde o fogo” contou com a presença de vários leitores de Álvaro Taruma.
O escritor, alusivo ao evento, disse que esta performance surgiu da necessidade de integrar o livro num formato diferente. Desta forma, a performance envolveu a dança, o teatro, a música e a declamação para representar um pouco daquilo que vem no seu livro, guiando os leitores à uma perspectiva maior daquilo que pode ser um texto poético.
Moçambicanas Teresa Manjate e Teresa Noronha entre o corpo de júri
A académica moçambicana Teresa Manjate e a escritora e editora Teresa Noronha fazem parte do júri intermediário, eleito pelo júri anterior, que seleccionou os finalistas das duas categorias.
Para além de Teresa Manjate, na prosa, o júri intermediário é composto pelos brasileiros Carola Saavedra e Cristóvão Tezza; os portugueses António Araújo e Simão Valente. Já na categoria de poesia, além de Teresa Noronha, o júri é composto pelos brasileiros Ademir Assunção e Luiza Romão e pelos portugueses Helena Buescu e Hugo Pinto Santos
Por fim, na terceira etapa, o júri final vai eleger os dois vencedores – um de poesia e outro de prosa, anunciados em Dezembro em cerimónia realizada no Itaú Cultural, no Brasil. A premiação é de 300 mil reais (cerca de 20 milhões de meticais), onde 150 mil para cada um dos vencedores.
Pré(ê)mio Oceanos 2024 recebeu inscrições de 28 países diferentes
O Pré(ê)mio Oceanos 2024 encerrou o período de inscrições com números que atestam sua vocação internacional. Ao todo, foram inscritos 2619 livros de autores residentes em 28 países – 1204 são poesias, 836 são romances, 389 são contos, 156 são crónicas e 34 são dramaturgias. Eles foram publicados por 459 editoras de seis países: Angola, Brasil, Cabo Verde, Itália, Moçambique e Portugal.
Participam da premiação escritores de 15 nacionalidades: Angola, Argentina, Brasil, Cabo Verde, Chile, Colômbia, Espanha, Guiné-Bissau, Índia, Itália, Moçambique, Palestina, Portugal, São Tomé e Príncipe e Uruguai, representando um aumento de 25% em relação ao ano passado.
Ano passado, na penúltima edição, o concurso recebeu 2.654 livros de 12 nacionalidades, entre Angola, Brasil, Cabo Verde, Estados Unidos, Itália, Moçambique, Portugal e Reino Unido e teve como obras vencedoras “Siríaco e Mister Charles”, do cabo-verdiano Joaquim Arena, editado pela Quetzal e “O gosto amargo dos metais”, da suíça naturalizada brasileira Prisca Agustoni, editado pela 7 Letras.
Importa referir que a curadoria do “Oceanos” é formada por Matilde Santos, presidente do Conselho Directivo da Biblioteca Nacional de Cabo Verde; João Fenhane, Director da Biblioteca Nacional de Moçambique, e pelos jornalistas Isabel Lucas, de Portugal, e Manuel da Costa Pinto, do Brasil. Conta com a coordenação da gestora cultural luso-brasileira Selma Caetano.
Álvaro Taruma: uma das vozes mais marcantes da nova geração literária do país
Álvaro Fausto Taruma nasceu na Ilha de Inhaca, Maputo, a 2 de Dezembro de 1988. É um poeta e escritor moçambicano, reconhecido como uma das vozes mais marcantes da nova geração literária do país. Formado em Sociologia e Antropologia pela Universidade Pedagógica de Maputo, destacou-se no cenário literário ao vencer o Prémio BCI de Literatura com o livro Matéria para um Grito (2019).
Membro do Movimento Literário Kuphaluxa, Taruma também foi finalista no Prémio 10 de Novembro, com o livro #A Migração das árvores”. Em 2023, conquistou o Stephen Spender Prize, no Reino Unido, na categoria Open Category, com a tradução de um de seus poemas. Além disso, é jurado do Prémio Internacional Pena de Ouro desde 2020.
Entre as suas obras publicadas estão “Para uma cartografia da noite” (2016), “Matéria para um grito” (2018), “Animais do ocaso” (2021), “Recolher obrigatório do coração” (2022) e “Criação do fogo” (2024). Ele também adaptou e produziu a peça de teatro experimental “Não deixa arder até tarde o fogo”, baseada no seu livro Criação do Fogo.
Elcídio Bila
Elcídio Bila é jornalista há 10 anos, escrevendo sobre artes e outros assuntos transversais. Tem passagens por dois órgãos de comunicação e diversos projectos de Media. Trabalha também como copywriter e Oficial de Relações Públicas em agências de comunicação. É fundador e director editorial do projecto Entre Aspas.