Alusivo a passagem do Dia Internacional da Música, que foi celebrado esta terça-feira (1), Entre Aspas conversou com o músico moçambicano Aniano Tamele sobre o cenário actual da música em Moçambique. Segundo Tamele, a música deve deixar de ser vista como mera diversão, e passar a ostentar o real valor que tem para a sociedade. Na entrevista a seguir, o artista de “Tsunela papai” faz um retrato dos últimos 10 anos, destacando as proezas e falhas da nossa indústria musical.
1. Como descreve o cenário da música moçambicana nos últimos 10 anos?
Penso que nos últimos 10 anos, a música em Moçambique caracterizara-se pelo surgimento de muitas vozes, masculinas e femininas, com muita presença em espaços de festas e danças, como por exemplo: casamentos, xiguianes, baptizados, aniversários e graduações. Estes ritmos têm estado a devolver aos nossos palcos de dança, por quanto, num passado recente, éramos invadidos por ritmos da África do Sul, Brasil, Estados Unidos, Angola, Cabo Verde, por aí em diante. Do mesmo, despontaram os executores do chamado afro jazz, que têm trazido canções com algum cunho dos nossos ritmos tradicionais.
2. Como músico, quais são os maiores desafios que enfrenta actualmente, em termos de produçao quanto distribuiçao dos teus trabalhos?
O maior desafio está em produzir obras sem o mínimo de financiamento. Infelizmente, não há empresários culturais agora. O músico é obrigado a financiar sozinho, a editar, produzir e distribuir por si mesmo as suas obras.
3. De que forma a tecnologia e as plataformas digitais têm impactado na criação e a promoção dos trabalhos?
As tecnologias têm sido um canal, uma ferramenta bastante útil, para a divulgação das minhas obras. Num contexto em que, colocar publicidade nas TV e Rádios tornou-se proibitivo, devido aos custos, as redes sociais têm sido a nossa salvação.
4. Acredita que o apoio institucional e gernamental para a cultura e a música no país é suficiente?
Bom, o apoio que recebemos é bastante insípido, tanto da parte do Governo quanto do empresariado nacional.
5. De que forma as colaborações entre músicos de diferentes províncias de Moçambique ou com artistas de fora podem fortalecer a nossa música?
A vantagem das colaborações, em diversos espaços geográficos, tanto no país como fora têm a vantagem de juntar numa só obra, várias pessoas, estilos, até mesmo ritmos, línguas e mensagens. É um sinal inequívoco de união entre os artistas.
6. No contexto do Dia Internaciuonal da Música, como olha para o papel desta arte na promoção da paz e da união?
A música, desde os primórdios da civilização mostrou-se como um verdadeiro veículo de união e não de exclusão, sempre revelou-se como aquela solução para todas as situações. A música, como símbolo da união e da paz, é usada no desporto, na política, mas festas sociais, dos eventos fúnebres, nas viagens, nos cultos, etc. Está é a força da música.
7. O que você acha que poderia ser feito para incentivar mais jovens a se envolverem na música e considerá-la como uma carreira promissora no país?
Acredito que em primeiro lugar é a profissionalização. A música deve deixar de ser vista como mera diversão e uma actividade informal, e passar a ostentar o real valor que tem para a sociedade. Também deve incentivar-se as indústrias culturais para que possam catapultar as iniciativas juvenis na produção de conteúdos culturais. Outrossim, é valorizar, incentivando toda a cadeia de produção, execução, edição e distribuição das obras artístico -culturais.
Raquieta Raso
Raquieta Raso, tenho 22 anos de idade, estudante de Jornalismo, 4.º ano na Escola de Comunicacao e Artes da Universidade Eduardo Mondlane. Sou apaixonada pelo audiovisual, e tenho excelentes habilidades como operadora de camera e editora de videos. Actualmente, sou Jornalista estagiária na Entre Aspas e escrevo nas categorias de Cultura & Artes e Lifestyle & Bem-estar.