Um parto difícil – este – do dia 27 de Setembro, dia que o mundo se curvava ao poder do turismo. Mais de nove meses depois do último evento, em Julho, o Matola Sundown in the Garden regressa, com força, mas titubeante; com energia, mas a arrastar-se e, no meio da crise, anuncia um grande artista, uma vedeta da música lusófona: Anselmo Ralph.
A notícia extrapolou as fronteiras da Matola, aliás, o “Sundown” não é só da Matola – é de todos e de toda a parte. Uma agenda fixa, até, para os maputenses de gema. A expectativa era muita, das meninas (e dos meninos). Todos queriam ver Anselmo, o eterno apaixonado, o homem que canta o amor até o próprio amor sentir ciúmes. Aliás, Ralph já cantou de tudo quando o assunto é amor. São mais de 20 anos de carreira e seis álbuns – ‘Histórias de Amor’ (2006); ‘As Últimas Histórias de Amor’ (2007); ‘O Cupido’ (2009); ‘A Dor do Cupido’ (2013); ‘Amor É Cego’ (2016) e ‘Momentos’ (2020) – por isso, em conferência de imprensa, na Vodacom, o artista de 42 anos disse que já não se podia esperar muito dele, que tinha feito o bastante e (já) era tempo de deixar os mais novos, mas não antes – pelo menos – de lançar o seu próximo CD, que, curiosamente, coincide com a celebração do Dia dos Namorados, no dia 14 de Fevereiro próximo.
Noite fria e alguns chuviscos, mas todos os caminhos iam dar ao Conselho Municipal da Matola, uma varanda propícia para este tipo de incursões. Apesar da cidade de Maputo reunir alguns eventos – até de figuras internacionais – a Matola não teve falta de público. Muito pelo contrário, estava lotado – transpirando de gente e rasgando-se pelas costuras.
Dançou-se que se fartava, com os Djs a vasculharem tudo que é música – desde moçambicana à internacional. Os Mestres-de-cerimónias faziam com que a noite tivesse mais sabor, brincadeiras que acrescentam a adrenalina não faltaram. Mas, quando passou da meia-noite, foi difícil agradar o público que só foi para ver Anselmo Ralph. Uma hora depois… nada do angolano, nem a sua sombra. O público já tinha perdido a paciência, mas não a esperança, até porque a organização, várias vezes, implorou por calma e ponderação, pois alguns problemas técnicos estavam a imperar que o artista subisse ao palco.
Uff! Só duas horas e quarenta e cinco minutos da manhã é que Anselmo Ralph soltava a voz do seu “animal” para o delírio do público. Naquele instante, ninguém mais se lembrou dos atrasos, dos problemas, da chuva e de sei lá mais o quê. Foi uma autêntica viagem ao passado, um passeio nostálgico por “Aplausos para ti”, “Está difícil”, “Não me toca”, “Mente para mim”, “Não vai dar”, “Por favor Dj”, “Fim do mundo”, “Única mulher”, e “Sem ti”, músicas que preencheram duas horas de performance, entre lágrimas e sorrisos de mulheres (e homens). Claro, não podia não agradecer pelo amor que os moçambicanos sentem por ele, por acompanharem vivamente a sua carreira, por terem cantado do primeiro ao último segundo e por ter sido uma agradável noite. “Muito obrigado” encerrou o concerto e tudo o resto foi colocado de baixo do tapete. Importou, sim, acima de tudo, o bom espectáculo proporcionado pela banda e pelos bailarinos neste regresso (espinhoso) do Matola Sundown in the Garden, uma experiência sempre agradável na Matola.
A Vector Musik, produtora do evento, ciente da noite turbulenta, emitiu um comunicado há dias, pedindo desculpas por todos os inconvenientes durante a realização do espectáculo, frisando que alguns factores estiveram longe do seu controle, mas em tudo que foi possível foi feito para que o evento decorresse da melhor forma.
A Entre Aspas não arrumou os microfones e a câmara depois de Hot Blaze encerar a sua performance, mas sobre o moçambicano será dito num outro momento, eventualmente, por hora cabia-nos este retrato ao Anselmo Ralph, o artista que regressa aos shows com o regresso do Matola Sundown in the Garden.

Elcídio Bila
Elcídio Bila é jornalista há 10 anos, escrevendo sobre artes e outros assuntos transversais. Tem passagens por dois órgãos de comunicação e diversos projectos de Media. Trabalha também como copywriter e Oficial de Relações Públicas em agências de comunicação. É fundador e director editorial do projecto Entre Aspas.