Nos últimos meses, a arte em Moçambique tem se tornado um poderoso canal de protesto e reflexão, especialmente no contexto das manifestações convocadas por Venâncio Mondlane, candidado presidencial em representação ao Partido Optimista pelo Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS).
Em um país onde os desafios sociais e políticos são constantes, muitos artistas uniram-se para usar sua criatividade e suas vozes como armas contra as injustiças que afectam a população. A luta por um futuro mais justo e livre é agora expressa através das mais diversas formas artísticas, desde a música até a pintura e a literatura.
Entre os principais nomes dessa revolução estão o eterno cantor Azagaia, o escritor Sérgio Raimundo – Militar e o retratista Fredy Uamusse. Esses artistas têm recorrido a arte para lutar contra as injustiças sociais vividas no país.
Em seu sentido mais amplo, a utilização da arte como mecanismo de protesto sempre esteve presente na música, por exemplo. Assim, como em todas as formas de representação visual, a expressão artística ocupa um lugar indiscutível no activismo social contemporâneo. Há uma longa, talvez até antiga, história de escritas em paredes e o que hoje chamaríamos de arte de rua e grafite, surgiu como meio de expressar descontentamento e captar a atenção do público.
Agora, uma nova geração de criadores segue esse legado, utilizando a arte para questionar o “status quo” e combater as desigualdades e violações dos Direitos Humanos que mancham o país.
Arte como espelho da realidade
A actual geração de artistas moçambicanos não apenas observa os problemas que afectam o país, mas também os traduz de maneira visceral e directa em suas obras.
Sérgio Raimundo - Militar com suas obras abordando temas como a luta pela liberdade e a resistência à opressão, traz uma narrativa que mistura ficção e realidade. Suas palavras ganham eco nas ruas e nas praças, onde muitos jovens se identificam com seus escritos que refletem os anseios de um povo que ainda luta por seus direitos.
Por outro lado, o jovem Fredy Uamusse tem sido um dos artistas visuais mais destacados. Em suas obras, Uamusse captura as angústias da população, retratando as dificuldades e os dilemas enfrentados pelas pessoas comuns diariamente.
No campo da música, o cantor e compositor Azagaia tem sido uma figura fundamental na expressão do descontentamento popular.
Nas suas letras, Azagaia abordava desde as dificuldades económicas até a opressão política. O artista usava a sua voz para convocar o povo a lutar por Mocambique justo, democrático e livre.
Durante as manifestações que tiveram início no dia 21 de Outubro, muitos artistas tem apoiado por meio de suas obras, reforçando o chamado à acção.
Em muitos casos, artistas manifestam e repudiam a acção da polícia através de suas obras, muitas vezes homenagiando aqueles que perderam as suas vidas nesta luta. Por exemplo, as músicas de Azagaia, com letras que pedem por liberdade e justiça, ecoam nas ruas durante os protestos, criando um ambiente de união e solidariedade entre os manifestantes.
Legado da arte na luta por Moçambique: Continuidade?
Desde sempre, a arte deu voz às minorias e grupos marginalizados. Ela inspira pessoas a agir em relação aos problemas sociais e políticos enfrentados.
No decurso da luta pela independência de Moçambique, figuras como o pintor Malangatana Ngwenya, escritor Mia Couto e o poeta José Craveirinha utilizaram suas obras para denunciar as atrocidades cometidas pelo regime colonial e para inspirar os moçambicanos a levantarem-se em defesa da sua liberdade.
Esses artistas foram pioneiros na utilização da arte como meio de resistência, e sua influência continua a ser sentida na arte contemporânea. Hoje, muitos artistas dão continuidade a esse legado, adaptando suas obras às novas realidades do país, mas com a mesma determinação em lutar pela justiça social e política.
O protesto artístico, que começou com a luta pela independência, continua a ser uma força poderosa para a mudança.
Em cada traço, em cada verso, em cada nota, a chama da resistência arde com mais intensidade. A arte não é mais apenas um reflexo da realidade, mas uma arma para reescrevê-la, desafiando o silêncio e impondo a urgência da mudança.
E enquanto as ruas e praças continuam a ser palcos de manifestação, os artistas deve seguir firmes na sua missão de criar um futuro onde a justiça, a liberdade e a dignidade humana sejam não apenas sonhos, mas realidades palpáveis.

Raquieta Raso
Raquieta Raso, tenho 22 anos de idade, estudante de Jornalismo, 4.º ano na Escola de Comunicacao e Artes da Universidade Eduardo Mondlane. Sou apaixonada pelo audiovisual, e tenho excelentes habilidades como operadora de câmara e editora de vídeos. Actualmente, sou Jornalista estagiária na Entre Aspas e escrevo nas categorias de Cultura & Artes e Lifestyle & Bem-estar.