Assinalando-se em 2025, o centenário de José Cardoso Pires, o Camões – Centro Cultural Português em Maputo, no âmbito da iniciativa Escritor do Mês, dedica o mês de Fevereiro ao escritor português José Cardoso Pires.
Duas actividades foram programadas para a celebração da vida e obra de José Cardoso Pires. Uma, que se realizou terça-feira, prendia-se com animação de leitura dinamizada pelo escritor e ensaísta António Cabrita e que contou com a participação da actriz moçambicana Sufaida Moiane com a leitura de excertos da obra ‘Dinossauro Excelentíssimo’ (1972), entre outros.
A outra sessão tem lugar quarta-feira (hoje) e trata-se de exibição do filme ‘O Delfim’, realizado por Fernando Lopes, baseado na obra homónima do autor.
De acordo com a Nota de Imprensa recebida pelo Entre Aspas, a obra de José Cardoso Pires constitui um marco relevante no panorama da literatura portuguesa, estando relacionada com tendências estéticas e com dominantes temáticas que marcaram a segunda metade do século XX.
O escritor nunca se identificou com grupos ou correntes literárias, no entanto, a obra de José Cardoso Pires foi influenciada pelos movimentos neo-realista e surrealista e ficou marcada por preocupações sociais constantes, sendo considerada como uma das mais ricas e significativas.
O ‘Delfim’ (1968) é geralmente considerada a sua obra-prima, em que o narrador assume uma condição de forasteiro, aparentemente descomprometido com uma realidade anacrónica. Recebido até 1974 como romance neo-realista, o livro tem despertado um interesse crescente como narrativa pós-modernista e, em 2002, foi adaptado para o cinema pelo realizador Fernando Lopes.
De acordo com o escritor português Bruno Vieira Amaral, na obra “Integrado marginal, biografia de José Cardoso Pires”, José Cardoso Pires (1925-1998) é notívago, boémio, brigão. Receoso de que a imagem pública lhe ensombrasse os méritos literários. Crítico do marialvismo. Acusado de ser marialva. Bem relacionado. Obcecado com a própria independência. O maior escritor da segunda metade do século XX. Um escritor datado e sem a mesma projecção internacional de um Lobo Antunes ou de um Saramago. Um espírito insubmisso. Um casamento duradouro. A convicção e a crença no próprio trabalho. Momentos de dúvida e angústia.
Neste livro, prossegue Vieira Amaral, vive um homem cuja personalidade foi formada no antagonismo. E um espírito que, apesar de amarrado a diversos ódios (ao campo, ao regime, à pequena burguesia da qual era originário, à literatura sentimental e demagógica, à polícia, à Igreja), nunca desistiu de Portugal e de ser escritor. Da influência inicial da literatura anglo-saxónica, passando pela necessidade de encontrar uma “sintaxe citadina”, ou pela importância de incorporar a experiência na criação literária sem cair no sentimentalismo ou no confessionalismo, até ao salazarismo enquanto quadro de mentalidades contra o qual toda a obra de Cardoso Pires se desenvolve, esta biografia dá a conhecer o processo de construção de um escritor. Pela mão do destacado escritor Bruno Vieira Amaral, o leitor conhece a exigência obsessiva e quase doentia, a lentidão no processo de escrita e publicação e como isso entrava em contradição com a aspiração ao profissionalismo e com a insistência na dignificação do ofício de escritor que toda a vida José Cardoso Pires, o integrado marginal, defendeu.”