A psicóloga Cândida Muvale assume saúde mental como um estado de bem-estar emocional, psicológico e social, no qual a pessoa se encontra equilibrada e capaz de lidar com os problemas que surgem no seu quotidiano.
“Mesmo na ausência de uma doença mental, é possível que alguém enfrente situações como depressão, ansiedade ou até transtornos mais graves, como a esquizofrenia”, defende a psicólogo no “Entre Aspas Talks” do mês de Setembro, alusivo à campanha Setembro Amarelo.
No entanto, realça a psicóloga, através de tratamento adequado, seja com medicação ou terapia, é possível alcançar estabilidade e manter uma boa Saúde Mental.
Assim, em jeito de definição, Muvale diz que Saúde Mental é um estado satisfatório de vida, em que o indivíduo reconhece os seus pontos fortes e fracos, consegue gerir os problemas e adversidades que ocorrem rotineiramente, mantém o stress dentro de limites que lhe permitem lidar com ele, procura satisfação pessoal e, sobretudo, consegue contribuir de forma activa para a sociedade e para as pessoas que o rodeiam.
No que concerne a juventude, o seu ângulo de debate, Muvale entende que, infelizmente, encontram-se entre os mais vulneráveis. Citando a Organização Mundial de Saúde (OMS), adolescentes e jovens, entre os 15 e os 29 anos, são os mais propensos a cometer suicídio. “As estatísticas apontam que, todos os anos, cerca de 800 mil pessoas tiram a própria vida no mundo. Isto significa que, a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio”, aponta.
“As causas são múltiplas e não se limitam a um único factor. Entre eles, podemos destacar aspectos socioeconómicos, emocionais, familiares, entre outros. Em muitos casos de suicídio está presente uma doença mental, frequentemente uma depressão grave, mas também transtornos como esquizofrenia ou bipolaridade, que, quando não tratados, aumentam a propensão para o suicídio.”
Quando a pessoa não tem autoconhecimento e enfrenta uma sobrecarga de problemas como luto, pressão social, ausência de prática de actividade física, má alimentação, consumo excessivo de álcool, pornografia ou jogos de azar, ausência de uma rede de apoio adequada, falta de acolhimento familiar, ausência de amizades empáticas, desemprego, políticas públicas excludentes acaba por sentir-se marginalizada. “Esta exclusão social”, explica, “associada à falta de realização pessoal e à sensação de que os sonhos e expectativas não foram alcançados, pode conduzir a um estado de frustração tão profundo que culmina em ideação suicida.”
Num outro momento, Muvale elucida que os adolescentes de 15 anos enfrentam problemas próprios da transição da infância para a idade adulta: mudanças físicas e emocionais, pressão para iniciar ou não a vida sexual, pressão para consumir álcool ou drogas, bullying, início de relacionamentos ou separação dos pais. Já os jovens adultos de 35 anos, prolonga-se, têm preocupações distintas, como alcançar estabilidade profissional, ter habitação e conseguir sustentar a família.
Para a especialista, numa sociedade em que as políticas públicas não atendem às necessidades específicas de cada faixa etária, a probabilidade de frustração é elevada. A ideia de se suicidar nasce frequentemente dessa frustração generalizada: quando a pessoa não encontra alternativas e sente que a morte é a única forma de se libertar do sofrimento.
“É importante frisar que os sinais de alerta variam de pessoa para pessoa, sendo essencial a existência de grupos de pertença, compostos por pessoas que conhecem bem o indivíduo e o seu comportamento habitual. Alterações bruscas e persistentes no comportamento devem levantar preocupações.”
Por exemplo, “alguém que outrora era comunicativo, brincalhão e gostava de interagir, mas que, de repente, se isola, evita conversas e passa a estar afastado da comunidade, pode estar a dar sinais de alerta. Do mesmo modo, alterações no apetite – deixar de comer quando antes tinha hábitos alimentares estáveis – mudanças no sono – insónia ou sono excessivo –, uso de substâncias como forma de escapar ao sofrimento, irritabilidade constante, nervosismo exacerbado e perda de paciência são indícios que não podem ser ignorados.”
Para Muvale é, também, comum que aconteça o inverso: uma pessoa calma e reservada que, de repente, torna-se agressiva ou demasiado agitada pode estar a enfrentar um episódio de stress, a consumir drogas psico-activas ou a procurar uma forma artificial de relaxamento.
Como forma de contornar a situação, ela entende que a família deve assumir um papel central, conhecendo bem os seus filhos, acompanhando os seus comportamentos habituais e estando atenta a alterações que persistam por três ou quatro semanas. Nessas situações, o diálogo aberto é fundamental: perguntar o que se passa, procurar compreender e oferecer apoio.

Elcídio Bila
Elcídio Bila é jornalista há 10 anos, escrevendo sobre artes e outros assuntos transversais. Tem passagens por dois órgãos de comunicação e diversos projectos de Media. Trabalha também como copywriter e Oficial de Relações Públicas em agências de comunicação. É fundador e director editorial do projecto Entre Aspas.