Carlos da Graça Nhangumele

— Senhor, são vinte horas. Estás onde?
— Estou a voltar, mãe de Ju.
— Haaa... Estou a voltar, estou a voltar. Lexi axidi mpunga, axidi wusva... (Isto não come arroz, xima...)
— Mãe de Ju, tens que falar assim?
— Ah, é para eu falar como? Tu sempre estás em viagens de trabalho, estás fora de Moçambique, quando estás aqui, andas por aí. Já viste onde um carro que fica anos e anos sem mudar de óleo? Sem fazer manutenção, hein?!
— Eu sei...
— Sabes, sabes o quê? Quero minhas coisas, eu. Sou mulher. Não me tiraste da minha casa para vir cozinhar para a tua família.

Esta era Nkokati, nome que Sandra herdou de sua avó paterna. Tinha quase quarenta anos de idade. Aos vinte e dois anos, viu-se casada, por insistência da família, pois que Mbate, seu esposo, a engravidara.

Mbate era um homem íntegro, tanto perante a família quanto a sociedade. Tinha ocupado vários cargos, com destaque para o de Secretário Executivo de uma Multinacional que, depois de um tempo, ascendeu ao cargo de PCA da mesma. Vivia de viagens de negócios, capacitações na Europa, Ásia e América. O seu dever como pai, filho, até mesmo tio e de bom vizinho, cumpria-os com zelo e dedicação. Mbate ajudava até ao cão sem dono que zanzasse pela zona da Sommershield.

— Está bem, esposa!
— Diz está bem e chegar aqui eu a dormir. Vou-te arrancar o material, eu!
— Amor, tenho que voltar para a casa. O game está agressivo lá. Vou à recepção pagar a conta. Ficas aqui no hotel até próxima semana, quando eu for a Portugal. Amanhã, estou aqui. Hoje só vou dormir em casa. Já sabes, a minha matshwa quando se espalha, ninguém a junta.
— Está bem, baby...

Mbate sai às pressas do Hotel Pétalas, um hotel quatro estrelas sediado no centro da cidade de Maputo, depois de pagar a conta até aquele dia, pois estava em Moçambique por uma semana, entretanto, só voltava a casa para descansar, a altas noites.

Era um senhor de quase meia idade. Quando jovem, arrastava toda e qualquer menina que quisesse, não só pela beleza como também pela riqueza que lhe perseguia, em compensação aos anos de formação na Irlanda.

Oscula os lábios da Teresinha, de vinte anos de idade, porém corpo de uma adulta e aliciante, que se encontrava deitada na cama daquele hotel, coberta quase toda, com um ar triste, como se se ressentisse da saída de Mbate, quando, na verdade, não via nada nele senão dinheiro na conta, viagens a países diversos e o seu negócio de venda de roupa feminina a fluir.

— Está bem, baby! Até amanhã.
— Certo...

Minutos depois, Teresinha efectua uma chamada, cujo interlocutor trabalhava ali mesmo no Hotel Pétalas:

— Bernardo, meu amor!
— Impsvini, Teresinha? (Que foi, Teresinha?) Assim estás a me ligar para me fazer ver que andas com o barrão, estás cheia de tako?
— Não, pá! Xinguluvana xifambile, (O porquinho foi-se).
— Hã?!, espera, estou a ver o gajo a vir aqui para a recepção, xiya kwini? (Aonde vai?)
— Está a bazar!
— Bazar?
— Bem mesmo! A noite hoje é nossa!
— Está certo. Vou acertar com o meu colega para me alertar se o gerente perguntar por mim... Venho passar a noite aí...
— Vem, meu amor, fazer o que o porquinho não sabe fazer.
— Bem mesmo, oku nyangalatela, lweyani (só brinca contigo, aquele).

Mbate chega à recepção, enquanto Bernardo pousa, sorrateiramente, o telemóvel no tabuleiro que tinha a lista de visitantes, quartos vagos e catálogo de serviços prestados por aquele hotel, entre outra papelada como calendário, pote de canetas... paga a conta.

Chega a casa bem tarde. Passou pela casa da mãe, onde levou mais tempo e, para justificar, efectuou uma chamada à esposa, explicando que estava em casa da mãe a resolver algo

— Chegaste, né? A estas horas?
— Eu já te expliquei! E estou cansado.
— Chi... papá, estás cansado, mas quero as minhas coisas. Vai tomar banho, estou aqui à tua espera...
— Okay!

Enquanto isso, Nkokati pega no telefone e liga ao seu vizinho:

— Tongwas, este senhor já chegou. Pelos vistos estava com as vadias dele. Vai tentar escalar esta montanha aqui, mas como sei que ele nem aos calcanhares do Maomé chega, vou zangar-me com ele e vou dizer a ele que vou dormir na sala. Enquanto ele se ressente do cansaço com as suas vadias, a gente se cansa pelo que bem sabe fazer. A porta da cozinha está aberta. Quando eu te der sinal, já sabes.
— Está bem, minha deusa. Até já.
— Até já.

Mbate volta do banho e, dito e feito, começa a contar as histórias de praxe. Ora porque está cansado ora porque as reuniões foram cansativas. Conta-lhe que passou pela casa da mãe e a hora já não ajuda...

— Mbate, sobe aí...
— Não vai dar, mãe de Ju. Amanhã, a gente fecha tudo...

Nkokati, cansada de insistir com e para algo que, mesmo se Mbate não tivesse estado quase toda a semana com a sua amante no Hotel, sequer tomaria conta, pega no seu cobertor e vai à sala.

Mbate manteve-se no quarto e, em poucos minutos, caiu no sono.

— Tongwas, podes vir. O porquinho dormiu...

Mbate, de facto, depois de um tempo, passou a não ter tempo para cuidar do seu corpo, quanto mais a idade e responsabilidades se acresciam, o seu corpo inchava proporcionalmente. Daí o cognome porquinho.

— Já estou aqui fora até.
— Entra...

Tongwas e Nkokati, embora silenciosamente, como verdadeiros vizinhos, ajudaram-se a chegar à cidade do Orgasmo, enquanto, igualmente, Teresinha e Bernardo se esfregavam à torta e à direita, no quarto vinte e seis daquele luxuoso hotel, às custas de Mbate, que se encontrava a descansar no conforto da sua cama casal, sozinho.

About Us

The argument in favor of using filler text goes something like this: If you use arey real content in the Consulting Process anytime you reachtent.

Instagram

Cart