Diferentemente do carnaval com um cunho europeu, o Carnaval de Quelimane, que acontece anualmente na província da Zambézia, tem um forte enraizamento nas expressões artísticas locais, integrando danças tradicionais como o tufo, praticado por grupos de mulheres muçulmanas, e ritmos como a marrabenta, um dos estilos musicais mais emblemáticos de Moçambique.
Para este ano, o Carnaval teve início na última semana de Fevereiro, 22, até Março. Neste período, milhares de munícipes reuniram-se nos locais do evento para acompanhar de perto os diversos momentos que marcaram o carnaval e, com expectativa alta, especialmente pelo prémio de 300 mil meticais destinado ao melhor grupo carnavalesco, cujo vencedor é o Grupo Anjos, do bairro Murropue.
Grupo Anjos destacou-se num total de 20 grupos foliões dos bairros que ‘sambaram’ durante seis noites naquele que é o maior evento da cultura do país, e, por sinal, de África.
De acordo com o Presidente do Conselho Autárquico de Quelimane, Manuel de Araújo, “o carnaval é parte integrante da nossa cultura, da nossa história, da nossa dignidade e desempenha um papel aglutinador de todos os munícipes independentemente da sua origem étnica, matriz partidária, crença religiosa, raça e condição social.”
A festa foi marcada pela presença de grupos de máscaras e bonecos gigantes, elementos que, por sinal, remetem às cerimónias e rituais ancestrais africanos, onde o teatro e os símbolos têm um papel importante na preservação da história e da cultura das comunidades.
O Carnaval de Quelimane é, também, um espaço de resistência e afirmação cultural através do uso de figurinos confeccionados por capulanas, tecidos típicos da região, e da exposição social presente nas músicas e encenações.
Em um contexto mais amplo, este carnaval compartilha características com festas semelhantes em outros países africanos, como o Carnaval de Mindelo, em Cabo Verde, e o Carnaval de Victória, em Angola, todos mantendo a fusão entre elementos culturais africanos. No entanto, diferentemente dos carnavais estruturados em torno de desfiles grandiosos, como no Brasil, o Carnaval de Quelimane mantém um carácter comunitário e espontâneo, onde a participação popular é essencial para a sua autenticidade.
Assim, mais do que uma festa, o evento representa um reflexo da herança africana e da resiliência cultural do povo moçambicano, promovendo a arte, a música e a identidade local em um espectáculo que celebra a diversidade e a tradição.
Soares Comé