No âmbito da celebração da vida e obra do escritor moçambicano Mia Couto e assinalando, igualmente, a sua homenagem na 9ª. edição da Feira do Livro de Maputo, o Conselho Municipal de Maputo em parceria com o Cine Teatro Scala, o Centro Cultural Brasil-Moçambique/Instituto Guimarães Rosa, organiza, entre os dias 18 e 21 de Julho, um Ciclo de Cinema dedicado a Mia Couto.
A ser exibido no Centro Cultural Brasil-Moçambique/Instituto Guimarães Rosa, em Maputo, o ciclo integra as mais importantes adaptações retiradas da sua obra e um documentário sobre a sua figura.
Durante os quatro dias, o público amante da literatura e do cinema poderá rever o filme “O Último Voo do Flamingo” (2010), realizado por João Ribeiro; o mini-seriado “Não é Preciso Empurrar”, escrito por Mia Couto; “Mabata Bata” (2006), realizado por Sol de Carvalho e, por fim, “O Desenhador de Palavras” (2006), de João Ribeiro e Hudson Vianna.
Com mais de 20 títulos que publicou, Mia Couto é um “escritor da terra”, escreve e descreve as próprias raízes do mundo, explorando a própria natureza humana na sua relação umbilical com a terra. A sua linguagem extremamente rica e muito fértil em neologismos, confere-lhe um atributo de singular percepção e interpretação da beleza interna das coisas. As imagens de Mia Couto evocam a intuição de mundos fantásticos e em certa medida um pouco surrealistas, subjacentes ao mundo em que se vive, que envolve de uma ambiência terna e pacífica de sonhos – o mundo vivo das histórias.
O diálogo entre literatura e cinema só é possível porque ambos lidam com as dimensões tempo e espaço. São artes temporais que se caracterizam pela temporalização do espaço. O que temporaliza o cinema é o olho da câmara, que registaa e capta o espaço em movimento. Nesse caso, fica a cargo do cineasta buscar ou não a fidelidade na hora de adaptar um livro. De qualquer forma, não adianta ir ao cinema esperando que o filme siga à risca a estrutura do livro. O filme nunca poderá ser o livro, uma vez que as essências e os formatos são distintos e exigem ângulos diferentes de análise e fruição. A obra fílmica não deve ser considerada uma mera cópia da literária, mas sim autônoma, independente, que mantém relação com a obra de partida, mas conserva características e motivações próprias.
O estudo da adaptação do romance para o cinema nos mostra que o trabalho cinematográfico, como resultado de uma adaptação, pode ser considerado uma recriação, uma transformação ou transcriação, da obra original. Ou seja, trata-se de outra obra, tendo como pontos de encontro determinados elementos da narrativa e alguns processos que esses textos activam.
A adaptação cinematográfica promovida pelos realizadores deve ser encarada como uma interpretação e tradução do romance ou conto de Mia Couto, que carrega seus mecanismos particulares, como seus recursos estilísticos próprios.