Bloco 4 Foundation e Txeka lançam colectânea de poesia sobre direitos humanos

A Bloco 4 Foundation e a Plataforma Txeka lançam, na próxima quarta-feira (19), a colectânea de poesia “Fechamento do Espaço Cívico e Direitos Humanos em Moçambique”. O livro que resulta de uma chamada que durou aproximadamente um mês será apresentado no Café das Letras, na Associação dos Escritores Moçambicanos.

Trata-se de uma obra em formato digital a ser distribuída gratuitamente que reúne 20 poemas de 15 autores, nomeadamente, Acácio Mavie, Auzório João, Constantino Rui Cumbane, Daniel Rafael Sigaúque, Denise Ivone Mboana, Melo Munguambe, Amede Abdulrazaque, ngela Djive, Mauro Brito, João Juízo, Stélia Acácio Mavie, Adelina Afonso, Osvaldo Ligonha, Franklin Alberto Gravata e Chissola Daúd.

De acordo com Tirso Sitoe, organizador desta antologia, nos últimos anos, tem se verificado, o aumento do aprofundamento da captura do Estado e do autoritarismo, várias liberdades foram sendo restringidas e, consequentemente, um acentuado aumento de violação dos direitos humanos. “Entretanto, as artes populares e outras formas de activismo tem desempenhado um papel importante para aumentar a visibilidade das vulnerabilidades dos defensores dos direitos humanos no fortalecimento de boas práticas de governação e denúncias as incongruências governativas, baseados na ideia segundo a qual ‘não podemos calar. A arte é também política’, refere na nota introdutória ao livro.

Mais adiante, Sitoe, também director executivo da Bloco 4 Foundation, assume que o livro, mais do que um convite a diagnosticarmos um conjunto de enfermidades sociais, “propõe ser um gramofone da juventude, que encontra na poesia uma arma para liderar a acção social e política. É uma poesia que canta. Uma poesia que chora. Uma poesia que em sua performance grita indignada contra utopias de afectos políticos.”

Já Maria Paula Meneses, no seu prefácio, anota que a colectânea de poesia intitulada “Fechamento do Espaço Cívico e Direitos Humanos” expõe as lutas vividas num desafio às estruturas hegemónicas de poder, vozes que se uniram para dar eco e desfiar contextos de silenciamento e clausura, apelando ao reconhecimento dos sujeitos com direitos e à justiça epistémica.

“Estas vozes retomam, por um lado, a tradição da literatura de combate que marcou o panorama da luta nacionalista em Moçambique, literatura definida por Frantz Fanon como aquela que pode tirar o controlo dos processos narrativos que sustentam a ordem capitalista/neocolonial e hétero-patriarcal enquanto, em paralelo, promove o desenvolvimento de uma nova linguagem e de uma nova humanidade”, fundamenta.

Para Meneses, são poemas que descobrem a indignação vivida, ao mesmo tempo que a sua leitura vai revelando uma razão revolucionária concreta, assente na realidade. “Estes poemas desdobram-se em propostas de reorganização social (e espacial) que partilham com os/as leitores/as o desejo de reconceber a realidade experimentada em termos igualmente radicais, envolvendo temas como a dor, as acções políticas, a ética, o amor, o humanismo, o intelectualismo, a linguagem, a literatura. Estes poemas rimam a história do agora em Moçambique e, nesse sentido, são propostas de luta narradas com urgência revolucionária”, assegura a académica.

Sublinha a Investigadora Principal/CES da Universidade de Coimbra e Membro da Comissão de Honra da Bloco 4 Foundation que, de forma continuada, estes poetas e poetisas dão corpo a uma análise da função da violência no âmbito de um leque mais alargado de acções políticas para mudar a natureza do poder.

“Longe de usar uma linguagem codificada e incompreensível, recorrem a uma escriva criativa, combinando a dor, a raiva com simplicidade. Muitos dos poetas participam activamente em acções organizativas, educativas ou socialmente reconhecidas, sendo estas suas reflexões mediadas no tecido social”, esclarece.

Refira-se que a apresentação deste livro está inserida no sarau Palavras são Palavras, onde, para além da apresentação do livro e declamação de poemas que constam da colectânea, haverá oportunidade para apresentações multidisciplinares, envolvendo poesia, música acústica, stand up comedy e dança, através de inscrições a ocorrerem no dia e no local.

“Fechamento do Espaço Cívico e Direitos Humanos” é uma obra produzida pela Bloco 4 Foundation e Txeka, e conta com o financiamento da National Endowment for Democracy (NED), uma organização nos Estados Unidos que foi fundada em 1983 para promover a democracia em instituições políticas e económicas, como grupos políticos, sindicatos, mercados livres e grupos empresariais.

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