As manifestações pós-eleitorais em Moçambique, convocadas por Venâncio Mondlhane, tornaram-se palco não apenas de protestos, mas também de uma explosão de criatividade. Nas ruas e redes sociais, milhares de moçambicanos expressam-se com cartazes que, misturando “humor e crítica”, passam mensagens que reflectem tanto as frustrações quanto os anseios de um povo que busca mudanças profundas no país.

Entre as mensagens que circulam, algumas destacam-se pela originalidade, pela carga de ironia e pela capacidade de transmitir uma crítica contundente a questões sociais, políticas e económicas que vivemos.

“Estamos cansados de comer frango em sílabas”. Esta é uma das mensagens que mais tem sido vista nos cartazes desde o início das manifestações.

A mensagem traz criatividade e humor, mas, acima de tudo, critica as condições de vida de muitas famílias moçambicanas. “Comer frango em sílabas”, agora, é uma metáfora para o consumo de alimentos em pequenas quantidades ou “partes”, como patinhas, cebeça, tripas, rabinhos, etc.

A expressão transmite a frustração de uma sociedade que, em vez de desfrutar de refeições “completas”, é forçada a contentar-se com porções mínimas, muitas vezes insuficientes. Podemos afirmar que esta mensagem denuncia as desigualidades económicas e a falta de políticas públicas eficazes para combater a fome e melhorar a qualidade de vida das pessoas.

“Eu posso, tu podes, ele pode, nós podemos”. A frase, que lembra um ‘coro de empoderamento individual e colectivo’, é um convite à acção. O “nós podemos” contrapõe-se à realidade de um povo que, muitas vezes, sente que suas capacidades individuais e colectivas são desvalorizadas ou ignoradas pelos governantes.

Assim, a mensagem vai além de um simples slogan motivacional, carrega uma crítica à falta de poder real que o cidadão moçambicano tem sobre os rumos do país. “Nós podemos” soa como um desejo de mudar a realidade, mas com a consciência de que isso depende de uma acção colectiva em um contexto onde as dificuldades parecem sobrepor-se aos sonhos de mudança.

“Não godolemos”, no Facebook, Whatsapp ou mesmo no Tiktok. O termo “godolar” remete ao acto de não desistir. Convoca a acçaõ de todos apesar das dificuldades enfrentadas. É um apelo para que o povo não deixe e nem desista desta luta, porque juntos podemos.

Ainda nestas manifestações algumas pessoas descobriram que os professores de matemática mentiam. Afinal, “neste país 20% é maior que 70%”, mais uma mensagem que ganhou destaque.

A ironia do cartaz está na sugestão de que, no contexto social e político moçambicano, as percentagens podem ser distorcidas ou manipuladas para favorecer interesses de uma elite que controla as decisões e recursos.

“Nós de Ractis também queremos carro”. O cartaz sugere que a aspiração do povo não é pedir luxos, mas sim o direito à igualdade e ao bem-estar que as vezes um certo grupo possui. Ter um meio de transporte é uma necessidade, que infelizmente a maioria dos moçambicanos não conseguiu.

Para além dessas mencionadas, podemos encontras as seguintes: “a lenha já estava seca, VM7 só acedeu o fogo”, “acho que hora já chegou”, “a cor do carro é vermelho, mas anamalala”.

Apesar da ironia que os cartazes carregam, eles reflectem as profundas frustrações de um povo que busca mais do que promessas vazias. É um grito de protesto que exige mudanças, e questiona as desigualdades e a falta de acção do governo diante das necessidades mais urgentes dos moçambicanos.

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Raquieta Raso

Raquieta Raso, tenho 22 anos de idade, estudante de Jornalismo, 4.º ano na Escola de Comunicacao e Artes da Universidade Eduardo Mondlane. Sou apaixonada pelo audiovisual, e tenho excelentes habilidades como operadora de câmara e editora de vídeos. Actualmente, sou Jornalista estagiária na Entre Aspas e escrevo nas categorias de Cultura & Artes e Lifestyle & Bem-estar.

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