Os filmes “18 de Março” e “Tristânia”, dirigidos por Xavier Bila e Lutergado Lampião, respectivamente, venceram a 8ª. edição do Concurso de Curta-Metragem, produzido pelo Centro Cultural Moçambicano-Alemão 2024.
Elisio Bajane, Ivandro Mahocha e Stélio António, membros do corpo de júri, deliberaram que a película “18 de Março” merece classificação de “Melhor filme” e o “Melhor argumento”, ocupando, desta forma a 1ª e a 3ª posição. E “Tristânia” arrecadou a 2ª posição, na categoria de “Melhor Realizador”.
Conforme o relatório do jurado, estiveram em avaliação “Narrativa e Argumento”, “Aspectos Técnicos”, “Actuação”, “Realização”, “Criatividade e Inovação”, “Aderência ao Tema”, “Tempo e Ritmo”, “Relevância Cultural ou Social” e “Impacto Geral”.
A classificação, com efeito, foi de 775 para o “Melhor filme”, 769 “Melhor Realização” e 152 pontos para o “Melhor Argumento”.
De acordo com a sinopse, o filme de Xavier Bila retrata uma história baseada em factos reais, na qual, “no seu regresso da missão de contenção de uma marcha pública, onde ele e seus colegas agiram com violência contra os manifestantes”.
Um agente da polícia, prossegue o resumo da película, é confrontado pela sua filha com uma revelação chocante, que toma o centro da narrativa.
Por sua vez, a proposta de Lutergado Lampião, é um enredo que decorre num vale perdido chamado Tristânia, governado por um tirano implacável chamado Lord Mafuta, sob o seu domínio, o exercício de cidadania era um conceito desconhecido.
“A população vivia constantemente sob o peso do medo e opressão, neste regime qualquer sinal de revolta era rapidamente esmagado, a constante presença dos seus soldados nas ruas era lembrança da sua força brutal, no meio a este caus Nhembete, uma jovem determinada e seus dois parceiros Muzila e Luana decidem despertar a população e começar uma revolução”, lê-se na sinopse.
Após a submissão de candidaturas através de sinopses, de 10 a 28 de Junho, a Afrocinemakers, produtora parceira da presente edição, orientou, na Galeria do CCMA, workshops técnicos, para os 35 candidatos que tinham sido admitidos ao concurso na presente edição.
Na sequência, os participantes produziram e enviaram os vinte filmes que foram objecto de avaliação para que se encontrasse o vencedor deste concurso que já premiou mais de 20 cineastas moçambicanos.
O contributo deste concurso é notável, de tal modo que vários produtores que tiveram neste a primeira oportunidade de mostrar o seu trabalho ao grande público e, na sequência, passaram a grandes produções, tal é o caso, por exemplo, dos Afrocinemakers e Gigliola Zacara.
A novidade deste ano é que os filmes produzidos no contexto do Concurso de Curta-Metragem estarão disponíveis na plataforma de streaming moçambicana NetKanema. Aliás, já lá estão disponíveis as curtas desde a 4ª. edição, não apenas os vencedores.
Com efeito, a tónica generalizada dos filmes é de uma abordagem holística, que transcende a discussão imediatamente política das temáticas “Democracia e cidadania”, o que reflecte uma percepção mais aberta sobre os assuntos supracitados.
O CCMA justifica as temáticas pelo facto de, 2024, ter sido amplamente reconhecido como o maior ano eleitoral dos últimos 50 anos, e possivelmente de toda a história moderna. Pois, mais de 70 países realizarão eleições nacionais ao longo do ano.
Só a nível regional, para além de Moçambique, a África do Sul e Botswana que já foram as urnas, o Namíbia irá no próximo 27 de Novembro. A nível internacional, destacam-se algumas das nações mais populosas do mundo, como Índia, Estados Unidos, Rússia e México.
E a luz deste facto, o CCMA, que igualmente compreende que a arte tem uma função reflexiva, acredita que desta forma contribui para uma participação mais consciente nestes processos. Assim como, possibilita a visibilidade de novos cineastas e propostas estéticas para a cena moçambicana.
Outrossim, o CCMA é guiado pela percepção de que o mundo atravessa um momento de ascensão de extremos de posições, divisões e polarização sociais fruto de várias disputas no campo político.
Na edição do ano passado, os vencedores foram “Amor” de António Parruque, “Mulheres” de Ariel Añez e “Abdul” de Daniel Marchol, quando os temas tinham sido “LGBTQIA+: Identidade e Alteridade na comunidade” e “Reconstrução/reabilitação de ecossistemas”.