Todas as estradas de alcatrão são feitas de sangue. É necessário jorrar sangue, sangue e mais sangue para trilhar a estrada da vida, que desagua no mar dos fantasmas: a morte. É por isso que os artesãos desta existência tecem, todos os dias, esteiras com fios de lágrimas.

Todas as estradas de alcatrão ferem-nos a pele com a sua fúria, desenhando em nós traumas e cicatrizes como as que infestam a vida do povo com chicotadas de chacinas, fome e miséria, paridas pelos senhores governantes.

Nenhuma estrada de alcatrão é leve. Muito menos a EN1, que, segundos antes das 19 horas do dia 28 de Dezembro de 2024, em Mapinhane, podia ao menos ter sussurrado ao ouvido daquele jovem motorista para nunca estacionar no acostamento à espera do Anjo da Morte. Assim, talvez não se tornasse refeição bem confeccionada: aquele molho de tripas acompanhado por uma papa vermelha, com sobremesa de pernas e orelhas amputadas, servidas sobre a mesa de alcatrão.

As estradas de alcatrão permitem o saque dos rescaldos de um acidente de viação, indiferentes aos prantos das almas despreparadas e dos inocentes sobreviventes. Tenho medo delas. Refiro-me às estradas de alcatrão que se transformam em palco de vermes brancos, com sentinelas verdes ou azuis, armados com AK-M, simplesmente para extorquir os automobilistas, enquanto abandonam sacos amontoados em Mahindras, dançando a música de dor dos feridos e do sangue que pinga.

Confesso, tenho medo de percorrer as estradas de alcatrão. São elas que permitem o deslizamento dos pneus de autocarros, que nos arremessam para fora da vida, consumando os sacrifícios que enriquecem procuradores, juízes e proprietários, deixando apenas migalhas para oficiais de sapatos com solas gastas. Na raiva pela falta de equidade, esses oficiais assassinam, de forma desumana, os desafortunados que caem nas mãos da Brigada de Operações.

As estradas de alcatrão fecham, sem pudor, as janelas das salas de urgência, para que ninguém ouça a penitência dos enfermos, ensanguentados e putrefactos, que imploram cuidados dignos a anjos demonizados. Tenho muito medo destas estradas.

São as mesmas que permitem o avanço apressado dos blindados, apressados em chacinar o povo miúdo, desvalorizando as palavras do poeta que dizia: “Que a morte me encontre já morto.”

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Xituculuana

Xituculuana, pseudónimo de Elídio Ermelinda Vilanculo. Poeta e escritor por vocação, participou em várias antologias nacionais e internacionais, destacando a "Colectânea Ocaso" organizada pela Massinhane Edições e a Comunidade Ressonâncias Literárias, na qual é membro interno, incumbido de cargo de Coordenador Geral. Dedica-se profissionalmente como Designer Editorial, e é completamente apegado à literatura, com expectativa de contribuir positivamente na arte, cultura e educação.

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