Cerca de 60% da área total do parque é afectada anualmente por queimadas intensas e severas, havendo associação com a prevalência de casos de caça furtiva no interior do parque. Esta é uma das constatações de cinco estudos científicos sobre a gestão do Parque Nacional do Gilé (PNAG).
Trata-se de estudos que abordam temas cruciais para a conservação e gestão sustentável do PNAG e Monte Mabu, que destacam, ainda, o facto das espécies de Miombo continuarem a dominar a vegetação, independentemente da severidade das queimadas.
“Nas áreas de maior severidade, espécies resistentes ao fogo foram menos afectadas, mas a estrutura do ecossistema foi afectada pela severidade assim como se observou redução significativa da regeneração natural”, conclui os estudos.
Estes resultados, entretanto, motivaram a realização de um treinamento em gestão de queimadas para as comunidades locais, pessoal do parque e do governo local. “Recomendou-se uma análise do efeito das queimadas sobre as espécies melíferas, sua floração, população de abelhas e produtividade da apicultura, uma cadeia de valor importante na região.
Ainda no PNAG, a pesquisa sobre o Estado de Conservação e impacto da reintrodução na restauração ecológica realizada pela Universidade de Lúrio – UniLúrio constatou a ausência de carnívoros de grande porte e indicou um crescimento da população de herbívoros de médio e grande porte na última década, criando condições favoráveis e disponibilidade de presas para predadores.
“Apesar da ausência das comunidades residentes dentro do PNAG, é fundamental o entendimento da dinâmica da população na Zona tampão dado o seu efeito na demanda de bens e serviços tais como a biodiversidade, polinização, recursos hidrológicos, paisagem cénica, sequestro do carbono oferecidos pelo Parque.
O estudo da Universidade Católica de Moçambique (UCM) – Relação entre a população da zona tampão do PNAG: uso dos recursos naturais e algumas projecções demográficas – registou um crescimento médio populacional de 1.8% entre os anos de 2023 e 2024 e redução de 26 a 13% de gravidezes nas idades entre 15 e 19 anos. Embora a média crescimento populacional estimada seja inferior às projecções do censo populacional, há necessidade de monitorar estes indicadores para gestão efectiva do PNAG e desenvolvimento comunitário.
Na mesma ocasião, destacou-se que no Monte Mabu, os estudos reforçaram o alto valor da biodiversidade e a vulnerabilidade das espécies à degradação do habitat. Além disso, a análise hidrológica identificou cerca de 17 cursos de água com excelente qualidade, abrindo oportunidades para desenvolvimento de cadeias de valor ligadas à agricultura, aquacultura, apicultura, pesca, produção de energia hidroeléctrica, extracção de água mineral, entre outras.
Para a ANAC, os resultados destas pesquisas promovidas pelo programa PROMOVE Biodiversidade, permitem conhecer o estado actual da conservação no PNAG, a documentação da Biodiversidade disponível no Monte Mabu e identificação das necessidades locais para melhor elaboração dos planos de gestão eficazes e, eventualmente, contribuir para a formulação políticas públicas voltadas para a conservação da biodiversidade.

Elcídio Bila
Elcídio Bila é jornalista há 10 anos, escrevendo sobre artes e outros assuntos transversais. Tem passagens por dois órgãos de comunicação e diversos projectos de Media. Trabalha também como copywriter e Oficial de Relações Públicas em agências de comunicação. É fundador e director editorial do projecto Entre Aspas.