O actor e cineasta Paulo Guambe, que foi assassinado de forma brutal e macabra na última sexta-feira (18), na Avenida Joaquim Chissano, em Maputo, será enterrado hoje em Jangamo, província de Inhambane, sua terra natal.

De nome completo Paulo Francisco Lopes Guambe, o artista nasceu no dia 25 de Outubro de 1973, em Jangamo, província de Inhambane. Foi actor de cinema e teatro, fotógrafo, professor no Instituto Superior de Artes e Cultura (ISArC), onde se licenciou em Cinema e Audiovisual.

Nos últimos anos, marcou a sua presença no mundo político moçambicano, como um dos membros fundadores do Partido Optimista pelo Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS), desde 2019.

O seu envolvimento com as artes começou ainda na juventude, em Inhambane, onde ingressou em grupos teatrais comunitários. Posteriormente, destacou-se como um dos principais actores de cinema no país, participando de várias produções nacionais e internacionais, o que o consolidou como um dos nomes mais promissores da sua geração.

O assassinato de Paulo Guambe gerou uma onda de agitação entre os seus admiradores, colegas de trabalho e o meio artístico moçambicano. Em sua companhia estava Elvino Dias, advogado do candidato presidencial Venâncio Mondlane, ambos mortos no local, crivados por 25 balas.

O facto gerou uma onda de protestos e manifestações em vários pontos do país, com exigências de justiça e maior protecção para figuras públicas que lutam pelas causas sociais.

Paixão pelo cinema e o reconhecimento internacional

Paulo Guambe, no universo do cinema e audiovisual, dedicou-se ao ensino e à formação de novos talentos. Como professor no ISArC, formou uma nova geração de cineastas e actores moçambicanos.

Um de seus trabalhos mais memoráveis na sétima arte é o filme “O Último Vôo do Flamingo”, de João Ribeiro, lançado em 2009. Baseado no romance homónimo de Mia Couto, o filme aborda temas centrais à identidade moçambicana, como a guerra civil, a memória colectiva e a reconstrução nacional, questões que sempre interessavam a Paulo.

Para além deste filme, Paulo Guambe trabalhou em várias outras produções, tanto no teatro quanto no cinema, sempre defendendo que o cinema moçambicano tinha um papel crucial na preservação e divulgação da cultura do país. Segundo ele, em uma entrevista num programa de televisão, “a arte cinematográfica é uma forma de retratar a nossa história, os nossos valores, e um veículo para projectar a nossa visão de futuro”.

Guambe foi uma das vozes activas na defesa de políticas culturais. Em várias entrevistas, criticava a falta de investimentos do Governo no sector cultural e a dificuldade de acesso ao financiamento para a produção de filmes nacionais. Sua luta constante era pela democratização do acesso à arte, para que mais moçambicanos, especialmente os jovens, tivessem a oportunidade de expressar suas narrativas e vivências por meio do cinema.

Alvim Cossa, presidente da Associação Moçambicana de Teatro (AMOTE), considera que com o assassinato de Paulo Guambe a arte foi violentada. “A morte de Paulo Guambe abre um enorme vazio. Ele era docente no Instituto Superior de Artes e Cultura, roteirista e actor. Abre lacunas imensas neste país. Portanto, deixa-nos desolados quando vemos que a arte também é violentada”.

Cossa acrescenta que a morte de Guambe é um ataque a todos aqueles que acreditam que as artes, na sua multiplicidade de géneros e estilos, são ferramenta de transformação social por excelência.

Homenagem para o actor

Paulo Guambe deixou uma marca indelével no cinema, na cultura e na política de Moçambique. Seu talento, dedicação e coragem são lembrados com respeito e admiração por todos aqueles que tiveram o privilégio de trabalhar com ele ou de ser impactados por sua obra. Em homenagem a sua memória, o filme “O Último Vôo do Flamingo”, onde ele actou, foi disponibilizado no NetKanema – plataforma moçambicana de streaming – permitindo que o seu legado continue vivo nas telas e nos corações dos moçambicanos.

“Celebrar a vida de Paulo Guambe é honrar o seu legado artístico, sua paixão pelo cinema e seu compromisso inabalável com a cultura moçambicana. Sua luz continua a inspirar gerações”, uma das várias mensagens de pesar endereçadas por colegas e amigos.

Paulo Guambe, em sua vida e obra, foi muito mais do que um actor e político, um visionário que acreditou na capacidade da arte de transformar o mundo.

Por conta deste infortúnio que abalou a todos, os artistas visuais não ficaram indiferentes, tendo criado representações artísticas de Guambe e Dias, como forma de homenagear o feito deles em vida.

Sandra Pizura, designer gráfica e docente na Escola Superior de Artes e Cultura (ISArC); Vasco Mahumane, designer gráfico e Pinto Zulo, também designer gráfico e artista visual, são alguns dos artistas que não ficaram alheios à homenagem, tendo usado as suas redes sociais para partilhar as suas criações que destacam rostos dos activistas abatidos cobardemente.

Com a sua partida prematura, Moçambique perde um dos seus maiores artistas e activistas culturais, mas o seu espírito continuará a brilhar, tanto nas telas quanto na luta por um país mais justo e igualitário.

Paulo Guambe e a literatura infanto-juvenil

Para além do teatro e cinema, Paulo Guambe teve um envolvimento relevante na promoção da literatura infanto-juvenil. Guambe encabeçou o projecto Kutsemba cartão – primeira experiência de produção de livros com cartão reaproveitado em Moçambique e, nestas publicações, permitiu a difusão de histórias e ilustrações de e para crianças através do projecto “Ler é nice”, tendo resultado, em parceria com outras editoras internacionais, no 1º. Encontro de Livros Cartoneros, em Maputo.

Este encontro, que teve lugar de 13 a 23 de Abril de 2012, juntou editoras de cartão do Brasil (Dulcinéia Catadora), Espanha (Meninas Cartoneras), para além de Kutsemba Cartão, de Paulo Guambe, coincidindo com a terceira edição da Feira do Livro de Maputo.

O 1º. Encontro do Livro de Cartão surge com o objectivo principal de divulgar o trabalho realizado durante dois anos de vida da Editora Kutsemba Cartão, com mais de 30 títulos publicados e um total de 2.297 livros vendidos e distribuídos.

Para além de dirigir a editora, Paulo Guambe escreveu histórias infantis, casos de “O coelho e as eleições: história baseada em relatos da tradição oral moçambicana”; “A ambição do sapo: história baseada em relatos da tradição oral moçambicana” e “O coelho que cozinhou a amiga gazela: história baseada em relatos da tradição oral moçambicana”.

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Raquieta Raso

Raquieta Raso, tenho 22 anos de idade, estudante de Jornalismo, 4.º ano na Escola de Comunicacao e Artes da Universidade Eduardo Mondlane. Sou apaixonada pelo audiovisual, e tenho excelentes habilidades como operadora de câmara e editora de vídeos. Actualmente, sou Jornalista estagiária na Entre Aspas e escrevo nas categorias de Cultura & Artes e Lifestyle & Bem-estar.

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