A fotojornalista moçambicana Luísa Nhantumbo é vencedora da Photo Direitos Humanos 2024, iniciativa levado a cabo pela Bloco 4 Foundation, que este ano foi subordinada ao tema “As marchas e violações de Direitos Humanos em Moçambique” inspirado na narrativa musical de Azagaia “A marcha”.
Num contexto em que as mulheres são invisibilizadas e o seu lugar de fala questionado, dentre um conjunto de 12 aplicações de propostas de ensaios fotográficos, a “fotógrafa das marchas” comumente conhecida, que é a Nhantumbo, foi uma das aplicantes ao concurso Photo Direitos Humanos que usou a fotografia como mecanismo de denúncia de violência policial contra jovens, em espaços públicos da cidade de Maputo.
Ao atribuir o prémio de melhor fotografa a Nhantumbo, Bloco 4 Foundation entende que este é um ponto de entrada para explorar caminhos alternativos contra o fechamento do espaço cívico, onde a fotografia para além de ser utilizada como um mecanismo de denúncia coloca em questão o autoritarismo do Estado.
O trabalho fotográfico vencedor será uma das grandes atracções em exposição no Annual Fórum – Juventudes, Participação Política e Direitos Humanos, no mês de Agosto, em Maputo, onde vai ser distinguida, num painel em que “vamos questionar e reflectir sobre os desafios e riscos de denunciar através da fotografia em contexto de estados autoritários e militarizados, para além da exposição digital na secção photos direitos humanos da página web da Bloco 4 Foundation e seguirá outra exposição e debate por académicos na Universidade de Coimbra.
Photo Direitos Humanos é uma iniciativa inspirada nas marchas públicas da denominada geração 18 de Março, dia em que a polícia reprimiu com violência as marchas pacíficas em homenagem ao músico moçambicano Azagaia em Moçambique.
Mas, ‘A Marcha’, narrativa musical de Azagaia, que aborda sobre os condicionalismos as várias liberdades fundamentais impostas pelo poder político em Moçambique, fez, como nunca antes, a juventude sair do cativeiro, do sono político oferecido pelos combatentes da fortuna e gritar em coro, no espaço público “para essa gente ir embora”.
Photo Direitos Humanos tem o suporte da National Endowment for Democray (NED) que tem apoiado iniciativas ligadas a promoção e defesa dos direitos humanos e estado de direito em todo mundo.
Luísa Nhantumbo, conhecida como a fotógrafa das marchas, é licenciada em Jornalismo pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane (ECA-UEM), e é jornalista na Lusa – Agência de Notícias de Portugal, a maior de língua portuguesa no mundo, onde produz textos, vídeos e fotos.
Em 2021, iniciou-se como fotojornalista com trabalhos publicados em vários órgãos e instituições a nível mundial como Euro News, BBC, CM TV, Jornal Público, Jornal de Angola, Rádio Renascença, Jornal Notícias, O País, RTP, SIC notícias, Jornal Expresso, Club of Mozambique, o Observador, Correio da Manhã e página do Governo de Portugal.
Em 2023, duas das suas fotos, ‘Repreensão policial de uma marcha em Maputo’ e ‘Inundações urbanas em Maputo na sequência de chuvas torrenciais’ foram distinguidas pela European Pressphoto Agency (EPA) como uma das melhores fotos da semana e do ano. A nível interno também se destacou vencendo alguns dos “Prémios Lusa”, que distingue as melhores reportagens, além de uma menção honrosa. Como fotojornalista explora diversas áreas e problemáticas sociais, com destaque para violação de direitos humanos e liberdade de manifestação.
Importa salientar que a Bloco 4 Foundation é uma organização de pesquisa que se dedica a promoção e pesquisa em activismo, cidadania e políticas sociais em Moçambique.
Elcídio Bila
Elcídio Bila é jornalista há 10 anos, escrevendo sobre artes e outros assuntos transversais. Tem passagens por dois órgãos de comunicação e diversos projectos de Media. Trabalha também como copywriter e Oficial de Relações Públicas em agências de comunicação. É fundador e director editorial da Entre Aspas.