O escritor moçambicano Mia Couto lança, esta quarta-feira (2) às 18h00, no Centro Cultural Moçambique-China, em Maputo, o livro intitulado “A cegueira do rio”, sob a chancela da Fundação Fernando Leite Couto.
Nesta nova viagem literária, Mia Couto escolhe uma aldeia no norte de Moçambique como palco de um acontecimento que marca o início da Primeira Guerra Mundial no continente africano.
Este inesperado incidente militar abre espaço para uma série de misteriosos eventos que culminam com o desaparecimento da escrita no mundo. Livros, relatórios, documentos, fotografias, mapas surgem deslavados e ninguém mais parece ser capaz de dominar a arte da escrita. Os habitantes dessa aldeia são chamados a restabelecer a ordem no mundo, ensinando aos europeus o ofício da escrita e as artes da navegação.
Factos e personagens deste livro foram inspirados em eventos reais ocorridos numa e na outra margem do rio Rovuma, que separa Moçambique da Tanzânia. O primeiro evento foi a insurreição popular que ficou conhecida como a “Revolta dos Maji-Maji” em protesto contra a cultura forçada do algodão. Encabeçada por um líder espiritual chamado Bokero, esta sublevação ocorreu entre 1905 e 1907 e a resposta das autoridades coloniais alemãs resultou num dos mais graves massacres da história de África. Pensa-se que entre duzentos e trezentos mil camponeses foram assassinados. O segundo evento consistiu no assalto alemão ao posto militar português de Madziwa em agosto de 1914. Um sargento português e onze sipaios africanos foram mortos nesse ataque. No resto, tudo o que se relata neste livro tornou-se verdadeiro a partir do momento em que foi escrito.
“A cegueira do rio” será apresentado pelo escritor Daniel da Costa, num evento que terá momentos de leitura e performance com Negro, Rita Couto e Letícia Deozina.
Mia Couto nasceu na Beira, Moçambique, a 5 de Julho de 1955. Foi jornalista e professor. Actualmente exerce as profissões de biólogo e escritor. Está traduzido em diversas línguas.
De entre prémios e distinções destaca-se a nomeação, por um júri criado para o efeito pela Feira Internacional do Livro do Zimbábwe, da obra Terra Sonâmbula, como um dos doze melhores livros africanos do século XX. Em 2022, foi distinguido com o Prémio José Craveirinha, pela sua carreira na literatura moçambicana. Em 2013, foi galardoado com o Prémio Camões e com o prémio norte-americano Neustadt International Prize for Literature. Em 2015, foi finalista do Man Booker Prize. Em 2016, o livro Mulheres de Cinza foi finalista do Prémio Literário da cidade de São Paulo, no Brasil. 2017, com o livro A Confissão da Leoa Mia Couto foi finalista do Prémio Literário de Dublin, República da Irlanda. Em 2024 foi distinguido com o Prémio da Feira do Livro de Guadalajara de Literaturas em Línguas Românicas.