Nunca vi uma sexta-feira tão longa quanto a última. Um fenómeno raro, sobretudo nestes dias onde os automobilistas temem alucinações dos “vândalos”, jovens que, do nada, decidem criar desordem, inventam pânico… e boom: aterrorizam as vias, impedem circulação, cobram taxinhas, mesmo quando está tudo à normalidade. Então, literalmente, todos que investiram no seu Vitz, que se batem com as ‘letras’ do banco, fogem da cidade a tempo. Mas na sexta-feira, miseravelmente, ninguém tirou o pé da cidade antes do grande anúncio.

Aliás, mesmo em dias serenos, às sextas-feiras são dias curtos, ou melhor, curtíssimos. Passam a correr, à velocidade das farras que se avizinham. Muitos – os indisciplinados – quando se sentam no Mercado Povo (é mesmo que dizer Mandela, Pulmão, Fajardo, Janete, Museu…), na hora do almoço, só se livram dos bancos secos quando o sol já não espreita. Desligam os celulares ou inventam funerais de última hora. Não há dia tão improdutivo quanto à sexta-feira. Mas esta última foi diferente. O sabor da curiosidade misturava-se com a leveza da cerveja ou com a densidade do vinho ou ainda com a intensidade do whisky.

Todos queriam saber, afinal, a quem se tinha chamado ao novo Governo. As portas da Comissão Política estavam escancaradas desde às primeiras horas. De lá não saia nem um pio. Os jornalistas que já queriam “se estragar” em Khongolote ou Golhosa tiveram que esperar mais um pouco para fazer as suas capas; os técnicos dos ministérios e institutos e centros e etc. também estavam com os seus goles indecisos, querendo saber quem serão os seus próximos chefes; os empresários e empreendedores não dormem desde que Chapo tomou posse, estão preocupados com as suas boladas; os lambe-botas, afiados, querem escolher os ministérios mais fáceis de “escovar” em função da simpatia que nutrem com o seu ministro e, não menos importante, as amantes querem finalmente saber se era, esta, a vez do seu ‘sugar daddy’.

Portanto, foi uma sexta-de-loucos. Até que, no cair da tarde, a mim e Féling Capela, confinados numa das mesas do Djambo, chega-nos uma mensagem do WhatsApp, um tanto quão fictícia, sobretudo nestes dias de maior reprodução de ‘fake news’ a indicar, pelo menos, os 12 ministros, incluindo o primeiro-ministro. E não tardou a confirmação oficial: Benvinda Levy – a carrasco de Azagaia – estava indicada como Primeira-Ministra.

Para além dela, a mensagem sobre o novo executivo de Chapo chegou com outros nomes: Maria Lucas, como ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação; Carla Loveira, como ministra das Finanças; Cristóvão Chume, como ministro da Defesa; Inocêncio Impissa, como ministro da Administração Estatal e Função Pública; Salim Valá como ministro da Planificação e Desenvolvimento; Paulo Chachine, como ministro do Interior; Roberto Albino como ministro da Agricultura, Ambiente e Pescas; Estevâo Pale, ministro dos Recursos Minerais e Energia; Basílio Muhate, como ministro da Economia; Américo Muchanga, como ministro das Comunicações e Transformação Digital; João Matlombe, como ministro dos Transportes e Logística e, para terminar, Ussene Hilário Isse, no Ministério da Saúde.

Já no sábado, estes senhores (e duas senhoras) tomaram posse, onde Daniel Chapo fez um discurso de responsabilização caso não cumpram com zelo as suas tarefas, pedindo, ainda, que estes sejam humildes, inteligentes, enérgicos e criativos.

Ora, faltam mais ministérios para o Governo trabalhar em pleno. Preocupa-me, por agora, pelo interesse particular no sector, saber quem será o Ministro da Educação e Cultura. Na verdade, esta é a pergunta que não quer calar à volta dos gestores culturais, empresários da cultura, artistas, criativos, professores e estudantes de artes, e outros com interesse em matérias artístico-culturais.

Esta Cultura, por agora, livra-se do turismo e reconcilia-se com a Educação, de quem não devia se ter separado. Parece-me que, agora, este ministro não basta ser um actor cultural, mas tem que ser, acima de tudo, um intelectual, um académico, um pedagogo, porque não?, alguém que entende de ensino e aprendizagem, mas também de cultura e artes. Quem será?

Dificilmente comi ou bebi ao longo do fim-de-semana. Aliás, nem tive tempo para estes apetites. O maior apetite que tenho, como muitos actores culturais, é conhecer o rosto que vai gerir esta pasta crucial para o desenvolvimento humano. Que este sufoco termine logo, a ver se os projectos da anterior governação e os desafios prementes das ditas indústrias culturais e criativas terão a mesma viabilidade.

Enquanto isso não acontece, algumas perguntas – diga-se pertinentes – perseguem-me os neurónios por agora: será um artista? Se for, prefiro Moreira Chonguiça? Será um educador? Se for, prefiro Nataniel Ngomane. Pronto, falei.

Nota: a razão para estas duas escolhas desenvolve um outro texto, caso, até lá, for oportuno.

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Elcídio Bila

Elcídio Bila é jornalista há 10 anos, escrevendo sobre artes e outros assuntos transversais. Tem passagens por dois órgãos de comunicação e diversos projectos de Media. Trabalha também como copywriter e Oficial de Relações Públicas em agências de comunicação. É fundador e director editorial do projecto Entre Aspas.

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