Depois de Malangatana, Mankeu, Chissano, Samate e Naftal Langa é agora a vez de Noel Langa. O artista plástico morreu esta sexta-feira (13), vítima de doença, no Hospital Central de Maputo, na capital moçambicana e as suas exéquias fúnebres tiveram lugar esta segunda-feira no Paços do Município de Maputo.
Este desaparecimento físico deixou a classe artística consternada, sobretudo os seus seguidores, que não são poucos, desde o Núcleo d’Arte – o bastião das artes plásticas na cidade de Maputo – até ao Centro Cultural Arco Íris, na Munhuana, ou bairro Indígena, onde Noel Langa forjava os artistas do futuro.
Mas desengane-se quem pensa que este infortúnio abalou apenas aos artistas. Académicos, jornalistas e profissionais de outras áreas que privaram com o artista rendem-se à sua humildade, carisma e senso de humor. Langa, para bem dizer, mais do que um artista era um pai para todos que precisam de uma lição, um avô para aqueles que necessitavam de um rumo e um irmão para os outros que se amparavam com o seu abraço de amizade.
Durante o velório, a ministra da Cultura e Turismo, Edelvina Materula, comprometeu-se a imortalizar o legado do artista através da preservação das suas obras, onde fez questão de destacar a importância do artista para a cultura moçambicana.
“Noel Langa nasceu já artista ao distinguir-se como único que tinha a pintura como um hobby ou um entretenimento no seio dos meninos da sua geração, que preferiam o desporto, em Manjacaze, sua terra natal. Não podíamos estar mais de acordo com ele, pois sendo a mãe uma talentosa ceramista, inspirou o filho a desenvolver potencialidades que o tornaram um verdadeiro artista versátil”, disse Materula.
Materula também ressaltou o compromisso do Governo em preservar a obra de Noel Langa, garantindo que seu legado não se perca para as gerações vindouras. “O Governo compromete-se a imortalizar a obra de Noel Langa, preservando-a para que as futuras gerações possam conhecer a história de um artista que representou a moçambicanidade dentro e fora do país”, afirmou.
Quem foi Noel Langa?
Noel Langa nasceu em 1938, em Manjacaze, na província de Gaza. Filho de uma ceramista, Langa foi influenciado pela mãe, que o ensinou a arte de modelar e dar forma à terra. Mas foi a pintura que realmente o cativou, e sua busca por desenvolver essa habilidade o levou à cidade de Maputo (antiga Lourenço Marques), onde se matriculou em 1960 no curso de Pintura Decorativa na Escola Industrial Mouzinho de Albuquerque.
Com o passar dos anos, Langa construiu uma obra diversificada que misturava figuras enigmáticas e abstractas, onde a sua arte era uma forma de questionar o mundo ao seu redor.
O artista acreditava que a pintura não era apenas uma representação da realidade, mas um veículo para questionar os porquês dessa realidade.
Morre o artista e fica o legado!
Noel Langa morreu na última quinta-feira, 12, vítima de doença. A morte do artista deixou um vazio nas artes plástica em Moçambique. Noel dedicou mais de 60 anos de sua vida à pintura, cerâmica e ao ensino artístico
Ao longo de sua carreira, suas obras ganharam destaque em mais de 100 exposições colectivas, e 40 exposições individuais em países como Portugal, Alemanha, Angola, Nigéria e Argélia.
Além de sua carreira como artista, Langa foi um grande educador. Em 1992, fundou o Atelier Arco-Íris, no bairro Munhuana, em Maputo, um espaço dedicado ao desenvolvimento artístico de jovens. Ali, o artista promovia workshops, concursos de artes plásticas e sessões culturais.
Pintou um notavél mural na Fundação Alberto Chissano, entre outras obras. Em 1995, foi distinguido com a medalha de Mérito Cultural Rotário, no Rotary Club Estoril, em Portugal.
Em 2016, realizou a exposição individual “Fragmentos do Arco-Íris”, no Museu Nacional de Arte – Maputo, onde a sua obra se encontra representada na exposição permanente.
O Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, também manifestou-se sobre a perda do artista, afirmando que Langa foi uma das maiores referências da arte moçambicana e que sua morte deixa o país “muito mais pobre”. O Presidente ressaltou que o artista sempre levou o nome de Moçambique além-fronteiras, com suas obras que representam a luta, a cultura e a história do país.

Raquieta Raso
Raquieta Raso, tenho 22 anos de idade, estudante de Jornalismo, 4.º ano na Escola de Comunicacao e Artes da Universidade Eduardo Mondlane. Sou apaixonada pelo audiovisual, e tenho excelentes habilidades como operadora de câmara e editora de vídeos. Actualmente, sou Jornalista estagiária na Entre Aspas e escrevo nas categorias de Cultura & Artes e Lifestyle & Bem-estar.