Mais de 150 pessoas, com destaque para mulheres e crianças vivendo com HIV e Sida, foram sensibilizadas em matérias de violência baseada no género. O evento que decorreu na última terça-feira, 3 de Dezembro, em Maputo, enquadra-se na celebração dos 16 dias de Activismo contra a Violência Baseada no Género.
Esta iniciativa integrou-se ainda na Semana de Acções Filantrópicas promovida pela Fundação Micaia, que, no contexto da celebração do Dia Internacional do Voluntariado (5 de Dezembro), visa destacar o impacto positivo do voluntariado nas comunidades e dar visibilidade a diversas acções filantrópicas realizadas por indivíduos e organizações.
O quintal da Associação Hixinkanwe, no bairro de Malhazine, ficou pequeno para mulheres, homens e crianças que todas as terças-feiras acorrem aquele local para ter uma “panela solidária” e palavras de sensibilização. Desta vez, o destaque foi para a violência baseada no género, onde, na “roda terapêutica”, as mulheres expuseram os seus traumas.
Eliesa Tembe é uma das mulheres que participou da “roda terapêutica” e contou a sua história dramática como viúva e mãe de dois filhos vivendo com HIV. Segunda conta, com uma voz hesitante e um semblante triste, é que descobriu que era seropositiva em 2017, na gravidez do seu penúltimo filho, que agora tem sete anos, que, felizmente, é seronegativa. Perdeu o marido quando o filho tinha apenas um ano e foi ai que a sua vida começou a ganhar contornos cinematográficos.
Entre desentendimentos, quer com a sogra e com a mãe, Eliesa perdeu tudo que o marido a tinha deixado, até o direito de enterrar o seu parceiro. Como solução, refugiou-se na rua, comendo restos de comida que apanhava nos contentores de lixo até ser acolhida pela Associação Hixinkanwe,
“Graças a Deus cheguei nesta casa. Encontrei a mamã Judite, que me apoiou e me aquele abraço que eu queria ter da minha própria família”, conta, lamentando pelo facto de “quando eu tinha o meu esposo toda a família era unida comigo, mas quando o perdi todos se afastaram de mim”.
Para outras mulheres que vivem com HIV, Eliesa diz que o importante é aceitar, primeiro, o seu estado de saúde e cumprir devidamente com a medicação até se tornar indetectável, tal como ela, que agora é activista social.
Para além de mulheres, a associação acolhe homens. Um deles é Jaime Júlio, que chegou na associação debilitado e nem tinha esperança de que iria sobreviver. Mas o suporte que recebeu – a medicação e carinho – sobrepôs-se à doença. Hoje, Júlio é firme: jovens, não se deixem levar por esta doença, porque”, justifica, “não é o fim da nossa vida”, basta, apenas, cumprir com a medicação.
De acordo com Judite de Jesus, presidente e fundadora da Associação Hixinkanwe, esta agremiação destaca-se por suas actividades voltadas à acessibilidade ao tratamento e retenção de vítimas, oferecendo um espaço de acolhimento e suporte a quem mais precisa. Para além do apoio psicológico e social, a associação empenha-se em garantir que essas mulheres permaneçam no tratamento, contribuindo positivamente para a recuperação e empoderamento delas.
“A maioria dos nossos beneficiários são mulheres sobreviventes de violência, cujo oferecemos apoio social e serviços integrados que abrangem a família inteira”, afirma a líder, através de cestas básicas e uma “panela solidária”, onde mulheres se unem para ajudar umas às outras.
Os esforços da Associação Hixinkanwe resultaram em conquistas como a redução de mortes entre as beneficiárias, o controle de suicídios e o sofrimento de crianças órfãs, além do empoderamento das mulheres que agora apresentam uma carga viral indetectável. “A maioria já não depende da associação e muitas iniciaram seus próprios negócios, tornando-se parceiras na missão de ajudar as outras”, destaca de Jesus.
Associação Hixinkanwe atende mais de quatro mil pessoas na cidade de Maputo e em províncias como Gaza e Inhambane, através de núcleos de representação, onde através de “rodas terapêuticas” e “grupos de autoajuda”, onde as mulheres podem compartilhar as suas experiências, ouvir e aprender umas com as outras.