Quando percebo o drama vivido pela dona Raimunda escorrem-me lágrimas de descontentamento, pela falta de amor, piedade e humildade ao próximo. Eis que vivemos em um mundo cruel, que a cada dia tem sido devastada pelo mau nascido dentro do homem.

Lá se vão anos e anos em que escutamos o seu grito de clamor, ela acabará de se tornar uma deslocada, uma casa simples construída através do seu suor incansavelmente, deixaram-na em pedaços. Viúva de três filhos perde seu marido nas minas de ouro, na vizinha África de sul. E para seu duplo azar seria única sobrevivente em meio há todo aquele turbilhão.

Foram dia, horas que ela e seus filhos mantiveram-se no esconderijo, temendo que fossem encontrados pelos terroristas que assolaram à vila toda, os inocentes esperneavam de dores, sentiam o furor de um estômago vazio e de joelhos faziam preces. Ela teve a impressão que a sua vida seria dilacerada sem nenhum pudor e compaixão somente o medo sucumbiu todo pensamento.

Foi em 2017. Lá estava como era de costume, a Dona Raimunda e seus três filhos: Miguel, Marta e Maria, voltando da machamba, carregados de lenha, hortaliças, ocupando da cabeça às mãos com mantimento que serviria para o seu almoço e janta.

Numa manhã de domingo e ensolarado, por volta das sete horas, ao despertar em sua casa e fazendo as suas tarefas domésticas, teve a sensação que escutara tiros, gritos e uma multidão correndo de um lado para outro. Raimunda, preocupada, e temendo pelo pior, correu em direcção à varanda notando um batalhão de homens armados criando pânico em sua vila, apercebendo-se que aquele acontecido ficaria marcado pelo resto da sua vida, considerado como um fatídico dia sangrento.

Invadiram, aniquilaram a sangue frio, fizeram de gato e sapato, eis que a Senhora Raimunda, em passos largos, desatou em correrias junto com seus filhos, deixando tudo para trás. Conseguiu escapulir entrando em uma mata rodeada de arbustos, facilitando a fuga e os delinquentes, assim sendo, mesmo tendo passando por ali, não conseguiram encontra-los.

Foi um cenário tenebroso, que ela e seus filhos assistiram, sem poder fazer nada e nem sequer um pio poderiam os mesmos darem. O risco de morte perpetuado pelos terroristas era visível, era aterrorizador. O abandono em rastros de demolição maciça feito pelo homem.
Dona Raimunda e seus filhos já esgotados não podiam deixar de gritar de alegria, pelo facto de ainda estarem vivos e obtendo a oportunidade de recomeçar. Debaixo do sol escaldante, zonas em ruínas e corpos debilitados, marcharam na tentativa de encontrar qualquer lugar que lhes servisse de abrigo e que pudessem saciar a sua fome, a sua filha mais velha Maria com lágrimas nos olhos e em tom bem baixo olhou para mãe e disse:
- Mãe, um dia eles destruíram a nossa casa, mas ter sobrevivido consigo e os meus irmãos respirando esse ar que nos viu nascer, lembrei das nossas lágrimas transbordando sem culpa alguma. Realmente o ser nunca saberá, nem reconhecerá todo esforço feito, devido a uma enorme repugnância que têm por nós.

A sua mãe, escutando essas palavras dolorosas e com um fundo de esperança ao enfrentarem toda aquela caminhada e com os pés machucados, viu em frente uma igreja e não pensou duas vezes de seguida entraram gritando por socorro: Socorro! Socorro, homem de Deus!

Um homem sábio chamado Sebastião Pastor e missionário do mesmo recinto ao escutar os gritos de socorro, enquanto concretizava as suas orações de joelhos, levantou-se olhando para trás e vendo a mulher e mais três crianças, aproximou perguntando:

- Então, o que acontecerá convosco? Em lágrimas, a Dona Raimunda explicou, enquanto eram acomodados com água e comida.

- Pastor, eu chamo me Raimunda e esses são os meus filhos, somos sobreviventes da guerra que se originou em minha antiga zona, tudo foi destruído pelos terroristas que decidiram invadir as nossas casas e meus vizinhos foram fuzilados. Em contrapartida fomos os únicos que saímos em vida. Orávamos para poder chegar em vida e encontrar qualquer espaço que nos descem abrigo e o que vimos primeiro foi a sua igreja.

O Pastor Sebastião, como era um temente a Deus e de bom coração, não hesitou em ajudar e abrigou em sua igreja durante alguns dias, enquanto o mesmo pensava o que poderia fazer mais, para tirar aquela família do sofrimento deixado pelos terroristas. Passaram-se algumas semanas que a mãe e seus filhos viviam nos fundos da Igreja que lhes foi cedido. Não obstante, eis que surge uma ideia vinda do Pastor:

- Olha, minha filha Raimunda, eu vou ajudar-lhes e será a última vez que o homem cruel fará do outro ser triste, com palavras injuriosas, duras, friorentas, maliciosas, ataques e mortes.

Ele foi ao fundo da igreja abriu a porta que daria em outro compartimento da igreja foi buscar um papel, caneta e umas notas em dinheiro e, de seguida, redigiu uma carta e escrevendo, quando a Dona Raimunda saísse da igreja deveria viajar até Maputo-cidade e que iria ser recebida por pessoas que pudessem dar ajuda em termos de casa e emprego.

Terminando a sua escrita, colocou à quantia de dinheiro no envelope, junto com a carta e disse:

- Esse valor é para poderes viajar com seus filhos até Maputo. Leve a carta junto consigo, pois contém um endereço para poderes te abrigares e serás recebida com as minhas tias e que irão vos ajudar em tudo que precisarem.

Por fim, despediram-se do pastor em total alegria, agradecendo pela ajuda e por trazer de novo a vida, paz e tranquilidade.

author-img_1

Iraneta Campos

Formada em Música na Escola de Comunicação e Artes (UEM) e Recursos Humanos no Instituto Industrial 1º de Maio, é co-fundadora da banda feminina Khayissa Queens e The Legendfriends, ministrado pelo ícone guitarrista e músico do Afro-Jazz Jimmy Dludlu. Teve o privilégio de tocar no workshop organizado pela ECA onde esteve presente o músico Oliver Mtukudzi e a cantora Judith Sephuma. Participou de festivais como Gala-gala no CCMA -Centro Cultural Moçambique-Alemão, no Museu Mafalala; co-Representante do projecto multidisciplinar Diferentes na Arte; professora de música no Canto das Artes.

About Us

The argument in favor of using filler text goes something like this: If you use arey real content in the Consulting Process anytime you reachtent.

Instagram

Cart