A edição deste ano do famoso carnaval do Brasil ganhou traços moçambicanos, através do vestido da rainha Divani Pavesi, pintado pelas mãos do artista plástico Sebastião Coana.
A obra a posterior concebida pelo renomado estilista francês Sadio Bee celebra os extraordinários 50 anos de dedicação da rainha ao carnaval, tendo sua origem artística em Paris e finalizada em Maputo.
O vestido que passeou pelas ruas de São Paulo inspira-se nas semelhanças entre as favelas e a vida urbana em Moçambique; a arte incorpora cores vibrantes, simbolizando a alegria e esperança compartilhadas entre os povos do Brasil e Moçambique.
Divani Pavesi representava a Escola de Samba Vai Vai, mas o seu vestido ia além da sua escola, exibindo traços de residências urbanas – as favelas – a maioria surgidas na década de 1970 devido ao êxodo rural , quando muitas pessoas deixaram as áreas rurais do Brasil e mudaram-se para as cidades.
Aliás, os seus traços contemporâneos e cores vibrantes de Coana aperfeiçoaram às exigências do vestido.
A Escola de Samba Vai Vai tem 94 anos de existência, e é reconhecida como a Escola do Povo. Seus membros, na sua grande maioria, são negros da região central de São Paulo. Diva Pavesi foi a escolhida este ano para representar a rainha da favela no desfile que ocupou o oitavo lugar numa classificação entre as 14 escolas presentes.
De realçar que a Escola de Samba Vai Vai é detentora dos títulos de campeonato, com 21 vitórias desde a sua fundação e participação nos carnavais. Diva Pavesi, na sua alegria carnavalesca disse “foi um imenso desafio apresentar a arte e a cultura periférica negra e pobre do Brasil. Este desfile foi uma ode aos artistas de rua, sublinhando a arte e a cultura urbana, por este motivo convidei dois artistas negros e membros da Divine Academia de Artes, Letras e Cultura, uma para pintar magistralmente o tecido, que foi o artista moçambicano Coana e o estilista e designer Sadio Bee do Senegal e radicado em Paris, Franca”.
Coana transformou o tecido em uma tela de casas urbanas típicas das favelas brasileiras, enquanto Sadio Bee foi quem desenhou e costurou. Dois grandes artistas sendo homenageados e respeitados pelo maior carnaval do mundo, e vistos por 186 países através da TV Globo.
O carnaval do Brasil é uma Ópera Popular onde 2500 integrantes deram um show na passarela do samba, onde a arte e a cultura popular venceram as barreiras e dignificaram seus artistas.
A Escola de Samba Vai Vai trouxe levou ao centro do palco da cidade manifestações culturais que sempre ficaram à margem, escondidas nas periferias. Utilizando a linguagem popular dos MCs e DJs, por meio da música RAP, o enredo reivindica a ocupação de espaços, assim como o reconhecimento pleno das expressões artísticas e culturais consideradas periféricas. Desta forma é evidente, urgente e intrínseco o diálogo com temas necessários a uma sociedade plural e humanizada com a igualdade racial, o combate à intolerância religiosa e a diversidade em todas as suas formas.