Sónia Sultuane ‘guarda’ material usado em nova exposição na Kulungwana

O universo da moda é vasto. Mais do que isso, é complexo. Ou melhor, tendencioso. De vários desequilíbrios em função do tempo e local. É verdade! Mas Sónia Sultuane desbrava ainda mais esta indústria e, para além de roupas, calçados e acessórios que costumamos ver, reinventa outras formas de estar, com novos padrões e texturas.

As novas propostas do bem-vestir estão em “Guarda-me”, uma exposição que abriu esta quinta-feira (13), na Kulungwana, em Maputo, que cruza as artes plásticas e a moda. Sim. É que, de acordo com a co-curadora Sara Carneiro, são peças que “entrelaçam a criatividade com a funcionalidade”.

Há de tudo um pouco, entre quatro paredes brancas, com fixadores originais, frutos do reaproveitamento: colares, brincos, anéis, carteiras e pulseiras fazem um mosaico criativo dos poucos vistos senão noutras paradas internacionais.

“Há uns três anos, quando fui a Grécia, inspirei-me numa exposição de Debra Rapoport, mas também venho acompanhando o trabalho da artista portuguesa Joana Vasconcelos, que faz trabalhos com o lixo”, conta Sónia Sultuane como tudo parte.

Mas esta mostra é o alargamento de uma experiência que vem incomodando a autora faz tempo, apenas ganhou um pouco mais de robustez. São exactamente 54 peças que surgem de um processo de transformação, reconfiguração e repadronização da arte, “incorporando uma consciência ecológica.

Fazem parte das diversas peças patentes nesta mostra, cápsulas de café, tubos de papel, embalagens, latas de refrigerantes recicladas, rolhas, favos de ovos, bolinhas plásticas, cartão, fitas, incensos, copos de iorgute, missangas, entre outros materiais.

Tudo ganha novas formas com o poder da imaginação, partilha Sultuane: “nos últimos cinco anos tenho estado a produzir imenso e isso também me impulsiona a criar outras coisas.”

Sónia Sultuane é uma artista multifacetada, muito conhecida pelo seu poder lírico. Aliás, conta a Entre Aspas que não dispensa a literatura de forma alguma: “os nomes que dou aos objectos acabam ser poéticos, portanto, a literatura está lá”. E mesmo o nome da mostra, “Guarda-me”, sugere que os cidadãos retenham os materiais que usam no seu dia-a-dia, ou seja, “terem uma segunda ideia”, remata, finalizando.

Já Sara Carneiro, por seu turno, conta que se junta ao projecto numa altura em que a autora já tinha muita coisa avançada, não só em termos de peças, mas o conceito todo da exposição. “O meu apoio como co-curadora foi tentar servir melhor possível a visão da Sónia e tentar apoia-la, não só tecnicamente, mas também conceptualmente naquilo que ela queria mostrar”.

São obras de arte, e podem ser vistas como esculturas, mas também são feitas para serem vestidas, na sua maior parte. Por isso, um dos desafios, partilha Carneiro, foi procurar montar as peças sem perder a sua essência.

A exposição vale, sobretudo, por não reaproveitar materiais apenas nas peças, como também nos suportes. Ou seja, quem visita o “Guarda-me” encontra a reciclagem e o reaproveitamento em tudo que a galeria exibe, para além, claro, da secretária com os catálogos da mostra.

Trata-se de uma exposição fora do comum, com materiais não convencionais, exaltando “o potencial e a beleza que está muitas vezes no que é descartado, e a encontrar novas formas e caminhos de produção, enquanto desafia as fronteiras e noções convencionais da Arte, Moda e Design.

“Guarda-me” está patente na Kulunguwana até 31 de Agosto. Por isso, guarda um dia no teu calendário e vá viver uma experiência de moda fora de moda.

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