I.
Confesso: estou sentado. E poucos conhecem o lugar. São alguns. Uma retenção cujo presença prolonga as horas entre... [Bom, pouco importa os detalhes]. De repente, desço com o mesmo cuidado com que se olha para um naipe de apetrechos minimalista. O perfil era da Érica Matsinhe. Escuto: [caindo e rebolando... Como nos velhos tempos... Subindo e descendo as dunas de areia da praia, areia, areia da praia... Sobe e desce...]. Admito: nunca tinha ouvido aquela voz numa arrumação cuidada. E com mesmo espanto, eu me questionei: como é que uma voz tão MADURA e PRÓPRIA; dona do seu lugar, com CONSCIÊNCIA e SUAS RAÍZES nunca foi pastorizada ao seu público?
Talvez tenha aparecido e eu não me tenha dado atenção].
II.
Percorri o álbum todo. Do PASIAR ao PWANANO MOÇAMBIQUE. Até ao Reinaldo Luís e Leonel Matusse Jr., escapou. É uma revista de um sujeito que se exuma em dois contornos possíveis: 1°. A teluridade negociada a partir de um reduto pouco e pouco escapadiço - a casa como tradução da totalidade e do imaginário de um povo que se recorta geográfica e culturalmente. Convoca numa possível penitência o modelo de Garvey. HONGOLENI NYEMBANI. A este ponto é possível dissolver o predicador a um sob ponto - a SAUDADE como memória. Àquela capacidade exercida por manter uma telha acessa, embora consciente do trato que o tempo confere. Talvez SAUDADE como pretexto de consumação humana sobre a náusea da contingência. Escutar NYINA GUMANA HAYI e MAIE NI BHABE - é retalhar a preocupação de Tony FANEQUISSO de debater-se com a saudade como memória de negação à lógica da transitabilidade. Aliás, é possível afirmar do sujeito predicador que a ideia de família como teia que se medeia entre a angústia e a retenção do adquirido é a horizonte que dele se denuncia.
III.
O 2°. contorno, tímido, porém, com uma carga [não idiológica] mas de um patriotismo [também não cemiterial] dá-se a partir do PASIAR; da língua como configurador de retenção de lugar; forma de demarcação, FANEQUISSO esboça o retorno à casa como celebração e comunhão; mas também - este ethos - é espaço de conjunto que exige de nós uma procissão de anulação e contenção de egos. PWANANO MOÇAMBIQUE é disso. Novas linguagens, mesma preocupação - INVOCAÇÃO AO REGRESSO.

Dionísio Bahule
Dionísio BAHULE, Filósofo, Ensaísta e Docente Universitário. Publica Fotojornalismo [Ou] a Gramática das Sensações, [2019]. Em co-autoria com a Paulina CHIZIANE, publica A Voz do Cárcere, [2021]. E em 2022, o livro Tabuleiro Semiótica [OU] O cálculo da Raíz Quadrada. Tem uma vasta publicação em universidades fora do país.