Abandonou os estudos na tenra idade, deixando os familiares preocupados com a decisão. Na altura diziam que iria regressar, pois se tratava de um mal-entendido e frustração do rapaz por não ter paciência em aprender.

Especulou-se muito sobre esta situação e vários foram os comentários em torno do Xico. Alguns diziam que era malandro, outros preguiçoso entre vários adjectivos, pelo facto deste ter abandonado os estudos. Na realidade, Xico como era conhecido retirou-se da escola porque não se contentava com a extrema pobreza que a família vivia. O pai morreu quando tinha apenas dois anos de idade e a mãe casou-se novamente com um senhor que maltratava e abusava constantemente o rapaz e a mãe. Foi então que decidiu projectar o futuro a sua maneira, com poucos recursos que tinha retirado do seu padrasto sem o consentimento dele.

Começou por aldrabar os vizinhos, tirando vários bens de forma cautelosa a luz do dia, mais tarde passou a ser temido na zona: o grande chefe da quadrilha, o mafioso e burlador.

— Não preciso nada de ninguém! Consigo sustentar-me com a actividade que faço.

— Quem quiser procurar-me, estou aqui! Não tenho medo.

De tanto as pessoas queixarem sobre o comportamento dele na zona, as autoridades começam a seguir os seus passos, decretaram-no como “procurado”. Quem achasse ou desse algumas informações sobre o seu paradeiro seriam recompensadas.

De dia não dava as caras mas a noite era terror, um autêntico caos perpetuado pelo seu grupo de elite, formado por jovens que ele recrutou prometendo melhores condições de vida. Assaltavam, roubavam e violavam pessoas ou todos aqueles que cruzassem os seus caminhos. Era conhecido por todos como o “poderoso chefão”. Às vezes disfarçava-se para ir à casa da mãe, trazendo mantimento e diversos materiais por ele adquirido de forma ilícita. A velha não aceitava receber mas ele insistia acabando por aceitar de forma forçada.

— Meu filho sai desta vida, entrega-te!

— O que adianta mãe, não quero voltar a sofrer!

Era sempre assim, todas vezes que ele vinha de forma disfarçada visitar a mãe. Não tardou até chegar o dia em que o reinado do Xico desmoronou por completo. Como as autoridades já tinham conhecimento das visitas que ele efectuava a mãe por conta do desabafo de vários membros da quadrilha que foram capturados. Elaboraram uma operação de busca e captura.

Como de costume, estava bem disfarçado, seguiu em direcção à casa da mãe para deixar alguns bens. Chegado lá, ninguém estava mas a porta se encontrava encostada. Pediu licença e entrou, não sabia que a polícia estava lá. Cercaram a casa, fecharam todas entradas, capturando-o sem resistência.

— Larguem-me!

— Soltem-me!

Gritava Xico, enfurecido e sem maneiras.

— Daqui não escapas, Xico! Estás encurralado, diziam os agentes.

Todos saíram para poder vê-lo ser preso por conta de vários crimes por ele e seu grupo cometidos na zona. Foi condenado a uma pena máxima de vinte e quatro anos de prisão maior. De lá nunca mais saiu, vendo o sol aos quadradinhos.

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José Mulodiua

José Mulodiua nasceu em Quelimane, Província da Zambézia - Moçambique. É docente e escritor, tem vários textos publicados em revistas e antologias em Moçambique, Portugal, Brasil e México.

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